A Aegea Saneamento levantou ontem US$ 500 milhões em um sustainability-linked bond de 7 anos – a primeira emissão deste tipo de uma empresa do setor na América Latina e exatamente um ano depois da empresa dobrar de tamanho ao levar a maior parte das áreas de concessão da Cedae, no Rio.
Os títulos saíram com yield de 7% – depois de um guidance inicial nos ‘low 7s’ – e a demanda ficou ao redor de US$ 800 milhões.
A empresa vai usar os recursos para reforçar o caixa e financiar uma oferta de recompra de um bond de US$ 400 milhões (principal) emitido em 2017 a 5,75%, e que venceria em 2024.
“Nosso negócio é intensivo em capital e investimentos de longo prazo. Por conta disso, o alongamento do prazo da dívida é relevante para o negócio,” o CFO da Aegea, André Pires de Oliveira Dias, disse ao Brazil Journal.
Como não tem receita em dólar, a empresa fará o swap da emissão para o CDI – segundo André, a volatilidade do mercado nesta semana impactou o cupom cambial e fez com que o custo em reais dessa nova emissão ficasse equivalente ao da anterior.
Na emissão de um SLB, a empresa se compromete com metas de sustentabilidade que, se não cumpridas, geram uma penalização na taxa.
A Aegea se comprometeu a reduzir em 7% o consumo de energia na distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto até 2025. Também adotou metas sociais: aumentar em 38% a presença de mulheres e em 22% a presença de negros em cargos de liderança até 2025.
A medição acontecerá em maio de 2026, e a taxa da emissão poderá ter um step-up entre 5 e 25 pontos-base se e dependendo de quais metas não forem alcançadas.
André disse que a métrica de diversidade racial não é comum nessas emissões e foi bem recebida pelos investidores. Segundo ele, a Aegea optou por firmar compromissos que não estivessem diretamente ligados ao seu negócio. “Já temos obrigações contratuais para expansão da rede de esgotos e redução das perdas de água, por exemplo,” disse.
Os coordenadores foram BTG Pactual, Itaú BBA, Morgan Stanley, Bradesco BBI e JP Morgan.
A empresa fez um roadshow extenso – com reuniões virtuais e presenciais com 80 investidores – para se reapresentar ao mercado, já que hoje ela é muito diferente daquela que emitiu o primeiro bond, em 2017.
Ano passado, a Aegea arrematou dois lotes do leilão da Cedae, no Rio, e expandiu seu atendimento para mais 10 milhões de pessoas – dobrou de tamanho, já que antes da Cedae, tinha 11 milhões de clientes.
André disse que um IPO é sempre uma possibilidade, e está à espera da decisão dos acionistas e de condições favoráveis de mercado.
A Aegea é controlada pela Equipav (52,77%) e tem como acionistas relevantes o GIC (34,34%) e a Itaúsa (12,88%), que investiu na companhia no ano passado.
O negócio é de capital intensivo mas gera bons retornos: a empresa fechou 2021 com margem EBITDA de 62%, e o crescimento médio do EBITDA nos últimos sete anos é de 30%. No ano passado, a alavancagem financeira da empresa fechou em 2,76x, uma queda de 0,30x em relação a 2020.
A Aegea tem 50% de market share entre os players privados de saneamento, o que por sua vez representa cerca de 18% do mercado total. A empresa está em 153 cidades e 12 estados.