É quase uma CEDAE.
Um consórcio liderado pela Aegea acaba de ganhar o leilão da privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) com uma oferta solitária de R$ 4,15 bilhões.
O valor representa um ágio de apenas 1,15% sobre o preço mínimo estabelecido no edital.
O consórcio – que inclui também a Perfin e a Kinea Investimentos – está pagando um múltiplo EV/EBITDA de 4,5x e um EV/RAB de 0,75x — em linha com o múltiplo que empresas como Sanepar e Copasa negociam hoje na Bolsa.
O capex estimado pelo edital é de R$ 12 bilhões até 2033 para que a Corsan cumpra metas de universalização de água e esgoto.
Os 317 municípios atendidos pela companhia tem hoje uma cobertura de água de 97%, mas a situação do esgoto é dramática. Apenas 20% das residências atendidas têm esgoto encanado.
O CFO da Aegea, André Pires, disse que está estudando o ativo “há muito tempo” e que a empresa conhece bem a região.
Em 2019, a Aegea ganhou a licitação de uma PPP para o esgotamento de nove municípios da região metropolitana de Porto Alegre.
“É uma região muito boa do ponto de vista de negócios,” Pires disse ao Brazil Journal. “A inadimplência é muito baixa e a renda média da população é alta. O intuito do Rio Grande do Sul em privatizar é trazer alguém capaz de fazer os investimentos necessários.”
O UBS nota, no entanto, que o ativo traz desafios. O nível de perdas de água da Corsan é de 43%, acima da média nacional de 39%, e a Corsan gasta cerca de R$ 200 milhões por ano com passivos trabalhistas. Segundo o banco, há 7,5 mil processos, e a Corsan só tem provisionamento para 3,9 mil deles (R$ 743 milhões).
Há ainda um passivo atuarial de R$ 700 milhões – do plano de benefício definido do fundo de pensão dos funcionários – mas o valor já entrou no cálculo do preço mínimo.
A privatização da Corsan terá um impacto relevante nos números da Aegea, aumentando em cerca de 40% o top line e em 30% o EBITDA. A Corsan fatura mais de R$ 3,3 bilhões por ano, com um EBITDA próximo a R$ 1 bilhão.
Já a Aegea fatura R$ 8,2 bilhões com EBITDA de R$ 3,1 bilhões – já considerando os números da concessão da CEDAE, no Rio de Janeiro, que a empresa começou a operar há pouco mais de um ano.
Segundo Pires, o impacto para o resultado é um pouco menor que o da CEDAE, mas bem próximo. As duas operações, no entanto, têm características bem diferentes: enquanto a CEDAE tem uma concentração grande dos resultados na cidade do Rio, a Corsan tem seu resultado bem pulverizado entre as 317 cidades.
Essa pulverização acontece porque a Corsan não atende a cidade de Porto Alegre, que é servida pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). O DMAE estuda fazer uma concessão pública da região, e a Aegea é um candidato natural.
Pires disse que a Aegea vai manter a Corsan dentro de uma subsidiária, que levantará a dívida necessária para o capex do projeto de forma a não impactar a alavancagem da holding.
A ideia é que 70% dos investimentos sejam feitos com dívida e 30% com equity.
A privatização da Corsan é uma vitória para o governador reeleito Eduardo Leite, que vinha tentando vender a companhia desde o ano passado. O Estado chegou a considerar duas vezes fazer um IPO da companhia, mas acabou desistindo.
Leite já fez outras privatizações relevantes nos últimos anos, incluindo a venda da Sulgás (comprada pela Compass), da CEEE-Geração (comprada pela CSN), da CEEE-Transmissão (comprada pela CPFL) e da CEEE-Distribuição (comprada pela Equatorial).