Sylvio Castro acompanhou de perto a crise dos fundos multimercado nos últimos três anos. 

No Itaú há apenas um ano, ele é responsável por coordenar a alocação de R$ 430 bilhões em funds of funds e investimentos para clientes institucionais e de alta renda. 

Antes disso, Sylvio fundou e foi CIO da Grimper, uma gestora que cresceu nos anos da euforia dos juros baixos mas perdeu patrimônio e foi incorporada pelo Julius Baer em 2023.

Para ele, o problema desse mercado é o excesso de gestoras. “A geração de retorno excedente é algo escasso. Não existem centenas de equipes capazes de fazer isso,” Sylvio disse ao Brazil Journal.

A Selic tem pouco a ver com isso. “É verdade que o custo de capital é alto, mas isso já aconteceu outras vezes no País e não impediu a performance da classe,” disse.

“O juro elevado é uma barreira para o investidor migrar para produtos de maior risco, mas não para a performance.” 

Sylvio Castro ok

Depois da depuração recente, com o fechamento de casas e a consolidação do mercado, as gestoras de multimercado que restaram no radar do Itaú voltaram a gerar retorno. 

Em janelas de 3, 6 e 12 meses, todos os fundos ficaram acima do CDI. Na média, o rendimento ficou em 104% do CDI em 12 meses, 123% em seis meses e 168% em três. 

Já os três anos anteriores haviam sido o pior período para o segmento. O retorno médio dos multimercado que o banco acompanha estava no pior decil da série histórica – 33%, ou 77% do CDI, de 2021 a 2024.

O que mudou?

Há um ano, Sylvio e sua equipe decidiram analisar o que estava acontecendo com os multimercado para entender se ainda valia a pena recomendar essa classe de ativos para os investidores.

“A gente se perguntava se os gestores tinham desaprendido ou se não havia mais oportunidades para os multimercado, já que o cenário brasileiro e global havia mudado. Mas vimos que o problema não era esse.”

A mudança mais relevante é que o ambiente ficou mais complexo à medida que os gestores passaram a investir em novos mercados e países – e a serem cobrados por isso. 

“Na África do Sul, não existem dezenas de fundos que só investem na África do Sul. Aqui, praticamente só havia fundos de Brasil há alguns anos. Quando a transição começou, nem todos os gestores conseguiram acompanhar,” diz um gestor.

Aumentar o escopo exige profissionais qualificados e bem pagos, e só tem isso quem entrega retorno, ganha taxa de performance e tem patrimônio. Um depende do outro, e também de uma empresa estruturada, com equipes e processos sólidos.

“A barreira de entrada no mercado de gestão parece baixa, mas isso não é verdade. Montar uma asset é fácil, o desafio é manter um business sustentável,” disse Sylvio.

É verdade que a proliferação dos investimentos isentos e o aumento dos juros pioraram o que já estava ruim, uma vez que o resgate em massa tornou algumas casas inviáveis.

Quem não fechou as portas reduziu o negócio, gerindo capital próprio ou de family and friends.  

A consequência é que, depois de anos de recursos sendo direcionados para gestoras independentes e de menor porte, o setor voltou a ficar concentrado nos grandes, diz Samuel Ponsoni, fundador da Outliers, uma consultoria voltada para gestoras.

E o que isso significa para o investidor?

Sylvio acredita que faz sentido investir em fundos multimercado como diversificação, já que esses produtos podem gerar retorno em diferentes cenários (desde que os gestores voltem a entregar com consistência, claro). 

“É mito que esses gestores só ganham dinheiro quando o kit Brasil vai bem”, disse, referindo-se ao combo juro e câmbio em queda e Bolsa em alta. “Um mundo volátil pode ser bom, já que abre espaço para arbitrar entre diferentes classes de ativos e lugares.” 

Para isso, porém, os gestores precisam conseguir identificar tendências e investir nelas com convicção – algo que faltou na última janela.