Em Goiânia, os próprios controladores de voo – geralmente imunes à emoção – deixaram extravasar o sentimento.

“Goiânia agradece à companhia pelos cinco anos de operação e desejamos sucesso aí a todos”, um controlador disse pelo rádio ao piloto, prestes a tirar do chão o último vôo da Avianca a decolar dali. “Bom voo e até logo.”

Em Maceió, no speech do último embarque, o piloto compartilhou o sofrimento da tripulação – e recebeu aplausos solidários.  “É uma dor muito grande, mas saibam que tudo o que fizemos aqui foi por vocês.”

Assim, de soluço em soluço, de lágrima em lágrima, a Avianca foi saindo dos céus brasileiros, deixando 5 mil comissários, pilotos e pessoal de terra em busca de “novos desafios”.

Em Juazeiro do Norte, onde a companhia operou por 11 anos, os funcionários da base que não sabem quando receberão seus últimos vencimentos e indenizações trabalhistas se despediram com a palavra G-R-A-T-I-D-Ã-O – cada um empunhando uma letra em agradecimento.

Tão palpável quanto a dor dos funcionários: o carinho (e a saudade) dos clientes. A Avianca se despede como uma atriz que deixa o palco no auge da forma – com aviões novos e recém estreando em aeroportos de Nova York e Miami – mas irremediavelmente incapaz de pagar suas contas.

No Instagram, um comissário da Latam escreveu:

“Hoje, ao ver a foto de uma colega da Avianca chorando em seu último voo, me fez recordar tristes momentos na Varig anos atrás.” Junto ao texto, a foto famosa de uma comissária da Varig em lágrimas.

Nessa hora, não há concorrentes, só a humanidade de quem se reconhece na dor do outro.

A estrada da recolocação dos funcionários — em um país com 13% de desemprego — será longa.

Para boa parte dos mais de 300 pilotos que ocupavam o cargo de comandante até o final do ano passado a saída está no aeroporto.

Faltam pilotos no mundo, e os brasileiros são conhecidos por uma cultura de aviação sólida, boa formação técnica e capacidade de adaptação.

A fama vem de uma sucessão de falências de companhias aéreas nas últimas duas décadas, que transformaram o país em um importante fornecedor de mão-de-obra global.

Desde dezembro, quando a Avianca entrou em recuperação judicial, mais de 20 companhias aéreas estrangeiras vieram ao Brasil para ‘vender’ seus planos de carreiras e pacotes de benefícios – foram mais de 40 roadshows em parceria com o Sindicato Nacional dos Aeronautas em São Paulo.

Dentre os co-pilotos, 45 já estão de uniforme novo. Foram contratados pela Latam, que arrendou 10 Airbus que pertenciam à Avianca.

“Mas não há demanda para muitos mais. É muita gente para o mercado nacional absorver no curto ou médio prazo”, diz Ondino Dutra, comandante da Gol e presidente do SNA.

Para aqueles que pensam em deixar o país, até escolas de formação aeronáutica estenderam a mão, com descontos no curso preparatório para o certificado de inglês da ICAO, que testa a proficiência no vocabulário técnico. “Vamos ajudar você a seguir em frente! Aproveite essa “opportunity””, diz o anúncio da Fly Academy.