Dando seguimento ao que foi decidido há dois anos, Alexandre Bertoldi deixou esta semana o cargo de sócio-gestor do Pinheiro Neto – que ocupou por 16 anos – para se tornar o chairman do escritório, deixando Fernando Alves Meira sozinho na liderança executiva.
Os dois dividiam o comando do escritório desde 2021.
Fernando, o ex-chefe da prática de M&A do escritório e há 34 anos no Pinheiro Neto, assume um mandato que vai até o fim de 2025.
A transição já estava planejada por Bertoldi, que queria fazer a transição até os 60 anos de idade. Hoje com 62, ele planeja se aposentar em 2026.
“O Fernando vai assumir o escritório numa espécie de corrida de revezamento: ele recebeu o bastão com o escritório em primeiro [lugar], e tem que entregar em primeiro e ainda aumentando a distância,” o novo chairman disse ao Brazil Journal.
Um dos maiores escritórios de direito corporativo da América Latina, o Pinheiro Neto tem cerca de mil funcionários, sendo 480 advogados – sem contar os quase 300 estagiários.
A passagem do bastão mostra o sucesso da institucionalização do escritório fundado por José Martins Pinheiro Neto em 1942.
Visionário em muitos aspectos – foi o primeiro a introduzir o conceito de firma numa época em que só havia escritórios individuais – o velho Pinheiro decidiu que seu escritório deveria sobreviver a ele.
Buscou a ajuda de uma consultoria americana – uma espécie de McKinsey dos escritórios de advocacia – que propôs o modelo de partnership que vigora ainda hoje, com órgãos diretivos eleitos pelos sócios e uma assembleia soberana. Os 114 sócios elegem o Comitê Diretivo, que concentra poderes, decide políticas e estratégias e propõe novos sócios.
A partnership é (surpreendentemente) democrática, com o capital pulverizado ao máximo entre os sócios. Apesar de ter 40 anos de casa, Bertoldi, por exemplo, tem apenas 1,1% das cotas do escritório, o máximo permitido.
Fernando assume o escritório num momento em que duas das áreas mais importantes do Pinheiro Neto – M&A e mercado de capitais – estão trabalhando bem menos que no passado, dadas as condições de mercado no último ano.
“Mesmo assim, crescemos no primeiro semestre na comparação anual, principalmente com o aumento dos casos tributários, especialmente os que envolvem o Carf,” disse Fernando.
Uma agenda sensível para o novo gestor será o impacto da inteligência artificial no mundo da advocacia, e seu potencial de eliminar o fator humano – especialmente os cargos mais júniores.
Fernando disse que este é um debate que o escritório vem fazendo há meses – ainda sem conclusão.
“Conversamos com muitos estrangeiros e a IA pode trazer mais segurança e qualidade nas tarefas de advogados mais novos para atender às demandas dos clientes. Mas o nosso escritório sempre busca a perenidade se renovando, então é uma discussão ampla,” disse o sócio gestor.