Uma startup fundada por uma campeã olímpica de física e matemática está tentando aplicar inteligência artificial para substituir gigantes de consultoria como a Mckinsey e a Accenture na chamada pesquisa operacional — um mercado incipiente no Brasil que usa modelos matemáticos e estatísticos para melhorar os processos nas empresas.
A Harumi foi fundada por Miriam Koga, que foi do founding team da Tractian, a startup de IoT para indústrias que já vale R$ 4 bilhões.
Miriam tem um histórico acadêmico exemplar: na escola, conquistou mais de 40 medalhas em olimpíadas de matemática, física, química, robótica e astronomia. Na faculdade, foi estudar engenharia de materiais no Georgia Institute of Technology – mas largou a faculdade no meio para se juntar à Traction.
A ideia da Harumi surgiu enquanto ela fazia um curso de pesquisa operacional no Museu de Matemática, em São Paulo.
“Este é um mercado em que todos os serviços são consultivos, e que é restrito às grandes multinacionais. O que eu enxerguei é que com o aprimoramento da AI dava para ‘produtizar’ ele, tornando-o mais acessível para várias empresas,” Miriam disse ao Brazil Journal.
Segundo ela, as consultorias cobram centenas de milhões de reais por serviços desse tipo. Com o uso da inteligência artificial, a Harumi está conseguindo cobrar uma fração desse valor.
Para tirar a ideia do papel, a startup acaba de fechar uma rodada de R$ 3 milhões liderada pela ABSeed, a gestora de venture capital de Geraldo Melzer. A captação também teve a participação da Tractian e de investidores-anjo como Daniel Arbix, o diretor jurídico do Google Brasil.
Por enquanto, a startup está atendendo dois clientes: a Cyrela e uma metalúrgica do Sul, a AFM.
Na Cyrela, a Harumi está usando a pesquisa operacional para a precificação dinâmica dos apartamentos, com o objetivo de maximizar a receita. Na AFM, o objetivo é reduzir custos. Quando as ordens de produção chegam da área comercial, é preciso distribuí-las pelas máquinas da fábrica. A startup ajuda a maximizar essa distribuição para acabar com atrasos e melhorar a eficiência.
A Harumi opera no modelo de SaaS, cobrando um valor fixo mensal que varia de acordo com a frequência de uso do software.
O projeto da Harumi é de longo prazo: Miriam diz que o nível matemático das AIs que existem hoje ainda é muito ruim, e que elas não atendem o que a startup precisa.
“O que a pesquisa operacional faz é criar modelos matemáticos que simulam os processos das empresas, e com isso simular diferentes cenários de alocação de recursos para descobrir qual é o melhor. Por enquanto estamos usando a AI para acelerar a modelagem matemática e a criação do código, mas ainda precisamos desses profissionais para melhorar a assertividade,” disse ela. “Ainda deve demorar anos de muita pesquisa interna e trabalho, mas no longo prazo a ideia é que a AI consiga substituir toda a função de um consultor.”
Miriam diz que o modelo de negócios da Harumi ainda não existe no mundo. Nos Estados Unidos, há startups nesse mercado, “mas que estão fazendo de um jeito diferente, com templates já prontos de otimização.”
“O que queremos é criar uma AI que se adapta ao cenário de cada empresa, e um modelo assim a gente ainda não encontrou em nenhum lugar do mundo.”