Numa transação que marca a volta dos grandes M&As no varejo alimentar, o grupo canadense Alimentation Couche-Tard está em conversas para comprar o Carrefour global, e o mercado espera um prêmio substancial.

A existência das negociações foi publicada ontem à noite pela Bloomberg, quando a Bolsa de Paris já estava fechada, e em seguida confirmada pela Couche-Tard, que disse estar buscando uma transação “amigável.”

No Brasil, com a B3 ainda aberta, a ação do Carrefour Brasil decolou e fechou em alta de 6%, cotada a R$ 20,15.  Na madrugada desta quarta, o Carrefour estava em alta de 9% no pre market em Paris. 

A Couche-Tard é a maior empresa de lojas de conveniência e postos de gasolina nos EUA e Europa, com 12 mil lojas nos dois continentes, e seu valor de mercado de US$ 36 bilhões é mais que o dobro dos US$ 15 bi do Carrefour antes da notícia das negociações.

A transação criaria o terceiro player mundial de varejo depois da Amazon e do Walmart, mudaria o xadrez da concorrência tanto na Europa quanto no Brasil, e colocaria pressão sobre gigantes europeus como Ahold, Sainsbury, Tesco e Aldi para retomarem seu ímpeto aquisitivo e buscarem escala regional.

Um takeover do Carrefour também pode ser uma boa notícia para o Casino, controlador do Pão de Açúcar, cuja holding Rallye vem passando por uma restruturação financeira há dois anos para lidar com seu endividamento. O Casino tem um footprint semelhante ao do Carrefour, com um peso até maior de lojas de conveniência e proximidade.

Nos € 15,46 do fechamento de ontem, a ação do Carrefour negocia perto de suas mínimas históricas. A despeito de um ambicioso plano de reposicionamento anunciado pelo CEO Alexandre Bompard há dois anos, a ação andou muito pouco. Analistas europeus esperam um bid entre € 20 e 25.

A venda do Carrefour nestes níveis seria um presente de Natal atrasado para Abilio Diniz, que comprou 9% da companhia em 2014 a cerca de € 17 por ação. 

Seria também um alívio para Bernard Arnault, o controlador da LVMH e dono de 12% do Carrefour.  Para Arnault, o investimento no Carrefour — com margens baixas, problemas com sindicatos e frequentes protestos de consumidores por preços mais baixos — sempre foi um pepino quando comparado à sua holding de bens de luxo.