Estóica e elegante como a própria Rainha, a libra esterlina sempre fez parte do chamado G5 das moedas globais — o pódio que reúne as moedas mais negociadas e seguras e que inclui o dólar, o euro, o iene japonês e o franco suíço.
Mas com as incertezas do Brexit, ela está perdendo a realeza.
“A libra é hoje uma moeda de mercado emergente em todos os aspectos, menos no nome,” o analista Kamal Sharma, do Bank of America, teve a audácia de escrever num relatório publicado hoje.
O epíteto não é novo. Desde o Brexit, traders dizem que a libra não é mais a mesma, e o próprio presidente do Bank of England já fez a comparação, ambos citando uma queda na liquidez da moeda e aumento na volatilidade.
Os investidores estão cada vez menos dispostos a se posicionar na moeda, em meio à incerteza crescente em torno da relação entre Reino Unido e União Europeia.
“A libra não pode mais ser analisada com os mesmos parâmetros usados para outras moedas fortes,” diz Sharma. Para ele, ela hoje é mais parecida com o peso mexicano do que com o dólar.
O BofA não é o único que acha que a moeda britânica já teve dias mais… hígidos.
Vasileios Gkionakis, o head global da estratégia de câmbio do banco suíço Lombard Odier, disse ao Financial Times que caso o Reino Unido não consiga um acordo com a UE nos próximos seis meses, “isso seria um desastre” para a libra. Ele acha que a moeda poderia cair do nível de US$ 1,25 atual para abaixo de US$ 1,10, enquanto o euro também pode se fortalecer — de £ 0,9 para a paridade.
Desde que o Reino Unido decidiu sair da UE, a libra já perdeu um quinto de seu valor — e sua volatilidade explodiu. Para se ter uma ideia, no pico da crise da covid-19, em março, a moeda registrou o segundo maior aumento na volatilidade implícita — perdendo apenas para o real.