David Autor é um professor de economia do MIT que, segundo o Financial Times, “fez mais do que qualquer outro economista no último quarto de século para documentar os efeitos disruptivos do comércio e da tecnologia no ambiente de trabalho moderno dos EUA.”

David Autor

Agora, Autor está se debruçando sobre os efeitos que a IA terá sobre o trabalho.

Sua pesquisa mostra que ao longo das últimas décadas os avanços da tecnologia têm efeitos diversos no mercado de trabalho. Desde o início dos anos 2000, por exemplo, o emprego nos Estados Unidos cresceu para pessoas qualificadas, com altos salários, e também para as pessoas de baixa qualificação e baixos salários. 

Já a classe média ficou fora do jogo, e viu seus empregos minguarem.

A tecnologia permitiu que as máquinas substituíssem as pessoas em tarefas rotineiras que podiam ser codificadas e roteirizadas, tomando o lugar do trabalhador de renda média. 

Ou seja, sobrou trabalho para pessoas com experiência e treinamento avançado, como médicos, engenheiros de software ou professores universitários. Do outro lado, também sobrou trabalho para um exército de pessoas que podiam fazer trabalhos práticos com pouco treinamento, como manicures, baristas e bartenders.

Nada diferente do que poderia sugerir o advento da IA, certo? Não necessariamente. 

Segundo o FT, Autor argumenta que a IA vai colocar o conhecimento nas mãos de pessoas que não têm treinamento avançado – e isso vai criar ganhos de trabalho e salários maiores para um grande número de trabalhadores menos qualificados que ficaram fora do jogo nas últimas décadas. 

Esses trabalhadores de renda média terão um futuro não apesar da IA, mas por causa dela. 

Autor diz que um estudo sobre trabalhadores de suporte técnico feito pela Universidade de Stanford pode estar apontando o caminho. 

Em Stanford, os professores Erik Brynjolfsson e Lindsey Raymond estudaram os efeitos de um assistente de conversação com base em IA generativa usando dados de 5.179 agentes de atendimento ao cliente. O dispositivo aumentou a produtividade e a média de problemas resolvidos por hora em cerca de 14%. 

Mas o interessante é que os dados mostram que houve uma melhoria de 34% no desempenho de trabalhadores novatos e pouco qualificados – e um impacto mínimo no desempenho de trabalhadores experientes e altamente qualificados. 

“Além disso, descobrimos que a assistência de IA melhora o sentimento do cliente, aumenta a retenção de funcionários e pode levar ao aprendizado do trabalhador,” diz um trecho do estudo. 

Outro exemplo citado por Autor é o da categoria de enfermeiros. Com assistência da IA, esses profissionais podem assumir a tomada de decisões (que hoje é canalizada apenas para médicos) e assim também podem conseguir melhores salários no processo.

Mas obviamente tudo isso vai depender de como as pessoas, empresários e governos vão escolher implementar a tecnologia da inteligência artificial generativa, segundo Autor. As empresas podem simplesmente decidir substituir mais empregos por robôs automatizados, em vez de treinar pessoas.

Para reconstruir essa classe média que ficou de fora por tanto tempo, a nova tecnologia precisa ser implementada com um senso de propósito e com os humanos em mente. 

“O futuro não é um problema de previsão,” diz Autor. “É um problema de design.”