A Febraban foi às redes sociais defender a honra dos bancos, demarcando uma linha na areia entre a narrativa de inovação das fintechs e o que considera ser o achincalhamento de seus associados.

O tom da resposta chamou a atenção da Faria Lima e foi o assunto do dia em alguns grupos de Whatsapp — além de uma distração para o meltdown global nas bolsas.

Tudo começou quando a Zetta — uma associação de empresas de tecnologia que reúne nomes como Nubank, Creditas e Mercado Pago — republicou uma reportagem com uma pesquisa do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). 

O levantamento diz que os grandes bancos subiram tarifas acima da inflação entre junho do ano passado e julho deste ano, enquanto as  fintechs não mexeram nas taxas. O post da Zetta dizia que essa era a “verdade sobre assimetrias”. 

A Febraban resolveu desopilar.  Num post reproduzido em várias redes, disse que a Zetta não “fala a verdade” — mas seu alvo claramente era o Nubank.  

“O Nubank, que tem cara, porte, produtos e até nome de banco, prefere não se dizer banco, mas cobra juros mais altos dos seus clientes do que a média dos cinco ou 10 grandes bancos brasileiros,” escreveu a Febraban, ecoando uma crítica feita pelo fundador da XP no mês passado.

A federação cita dados do BC referentes à  última semana de agosto:  a taxa média do juro do cartão rotativo do Nubank era de 291,67% ao ano, maior que a média dos 5 grandes bancos, de 271,68%. No crédito pessoal não consignado, o Nubank tinha taxa de 62,86%, enquanto a média dos 10 grandes bancos era de 54,54% ao ano e dos cinco grandes, 60,65% ao ano. 

Para a Febraban, a “verdade” verdadeira é que as grandes fintechs gostam mesmo é de pagar apenas “meia entrada” e em nada se diferenciam dos bancos. “Aliás, só não são bancos para pagar menos impostos, gerar menos empregos, ter poucas obrigações regulatórias e trabalhistas”, diz o post da associação.

A Febraban diz que a Zetta também não conta que as fintechs pagam bem menos impostos que os bancos, “que pagam 45% sobre lucro, sendo 25% de IR e 20% de CSLL, enquanto que as fintechs pagam apenas 9% ou, quando muito, 15% de CSLL”.

“Não temos vergonha de sermos bancos, muito ao contrário, e também não nos escondemos atrás de letras, marketing e grifes”, Isaac Sidney, o presidente da Febraban, disse ao final do post.  

Já faz tempo que a Febraban não ouve calada as críticas das fintechs aos bancos. Nos últimos meses, a federação que reúne os grandes bancos já vinha martelando que as fintechs se beneficiam de uma regulação mais leve e são favorecidas por essa assimetria regulatória na competição com os bancos.

As fintechs têm causado uma revolução no sistema financeiro, derrubando custos, oferecendo experiências de uso menos complicadas e aumentando a barra de satisfação do cliente. Mas parte do esforço de marketing tem sido em satanizar os grandes bancos, que se incomodam com a caracterização.

“Esse discurso da Febraban foi ótimo,” diz o head de uma das maiores agências de PR do País. “A narrativa das fintechs é maniqueísta: os bancos são os vilões do sistema, e as fintechs, os mocinhos. Essa postagem mostra que não se trata do bem contra o mal, trata-se apenas de concorrência.  Os bancos têm certos atributos e as fintechs têm outros.” 

O bate-boca de hoje acontece na antessala do IPO do Nubank, em que o banco estaria buscando um valuation entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões. A oferta de ações é esperada ainda este ano.