Surpreendendo o mercado, a Equatorial levou a Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D), controlada pelo governo do Rio Grande do Sul — a primeira de seis privatizações planejadas pelo Governador Eduardo Leite. 

No final da manhã, a ação da Equatorial subia 7%.

A companhia pagou um valor simbólico de R$ 100 mil pela distribuidora, que tem passivos significativos — deve mais de R$ 3,3 bilhões só de ICMS — e um dos índices mais baixos de prestação de serviço do setor.  Agora, a Equatorial deve investir R$ 1,6 bilhão para melhorar a infraestrutura e a qualidade do serviço. 

Analistas estimam que a Equatorial tenha pago entre 1,5x e 2x a base de ativos regulatórios (RAB), assumindo que a assunção de dívidas fique em R$ 3,5 bilhões. A Equatorial — que negocia a 1,9x RAB — vai discutir os números numa teleconferência marcada para amanhã.

A CEEE-D se presta ao playbook clássico da Equatorial: a possibilidade de cortar custos, melhorar a eficiência da operação e expandir a RAB, já que a CEEE-D passou anos sem investir.  

A Equatorial também pode gerar valor com a negociação dos passivos, reduzindo seu valor presente, e com a compensação do imposto de lucros futuros. 

A pergunta de 1 milhão de volts é por que a CPFL Energia, controlada pela chinesa State Grid, não apareceu no leilão. Como já explora as áreas de concessão das antigas RGE e AES Sul, a CPFL é a companhia com mais sinergias geográficas com a CEEE-D. Em nota à Reuters, a CPFL disse que a CEEE-D não lhe oferecia “equilíbrio entre risco e retorno, respeitando a disciplina financeira.”

11385 94e4f0bc 56e2 36f6 9e86 cff8299904e4A privatização é uma vitória do governador Eduardo Leite, que assumiu o governo com uma agenda pró-mercado e de modernização do Estado. Ele também já anunciou a privatização da CEEE-Geração; CEEE-Transmissão; da Corsan, a companhia de saneamento do estado; da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás); e da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) — sem contar a concessão de 1.150 km de estradas à iniciativa privada, que permitirá extinguir a Empresa Gaúcha de Rodovias.

A privatização da CEEE-D também teve como objetivo resguardar o contrato de concessão da distribuidora. Em 2015, o contrato havia sido renovado até 2045 com o condicionante de que a empresa atingisse certos indicadores econômico-financeiros e de qualidade de serviços. 

A estatal descumpriu esses indicadores por dois anos seguidos e corria o risco de perder a concessão. 

A CEEE-D atende 1,7 milhão de clientes em 72 municípios diferentes, englobando 26% do território do Rio Grande do Sul.