A Advent acaba de fechar a compra de uma fatia minoritária da CI&T, uma multinacional de tecnologia nascida em Campinas que auxilia empresas nos processo de transformação digital. 

10743 e73e78a4 ab16 f8ee 74b6 d869bcd6144aA gestora de private equity comprou os 30% que o BNDESPar tinha na companhia e mais uma fatia não divulgada dos controladores, os sócios-fundadores Cesar Gon, Fernando Matt e Bruno Guiçardi.  Não houve aporte de caixa na empresa. 

“A Advent será um parceiro estratégico para que tenhamos mais músculos para expandir fora do Brasil”, Gon disse ao Brazil Journal. Ele é o CEO da CI&T e seguirá à frente da companhia. 
 
A CI&T deve faturar R$ 700 milhões este ano, contra R$ 618 milhões no ano passado. A meta é chegar a R$ 1 bilhão em 2020. 
 
Segundo Gon, a empresa é lucrativa e geradora de caixa, e mais do que dinheiro para financiar a expansão, buscava sócios com renome internacional. 
 
A marca da Advent deve ajudar no processo – a começar pelas dezenas de empresas que a gestora tem em seu portfólio mundo afora. 
 
A negociação foi feita diretamente entre a Advent e a companhia, sem a intermediação de assessores financeiros.  
 
A CI&T, ajudando empresas tradicionais não apenas a se digitalizar, mas a responder de forma mais assertiva à necessidade de velocidade nos processos e tomadas de decisão. Em outras palavras: a companhia transporta a cultura ‘agile’, que nasceu nas empresas de tecnologia, para outras esferas do mundo corporativo.
 
Quase metade da receita vem de fora do Brasil, a maior parte dos Estados Unidos. A companhia atua em diversos países, incluindo China, Japão, Canadá e Reino Unido. 
 
Um caso resume bem o tipo de atuação da CI&T. Com a ajuda da companhia, a Coca-Cola – cliente global da companhia há mais de uma década – reduziu o tempo de lançamento da sua linha de sucos de um ano e meio para apenas três meses no Brasil.
 
O tempo de testes foi reduzido e a Coca terceirizou a produção para fábricas parceiras, reduzindo o tempo que levaria para construir toda uma linha de produção.
 
Fundada em 1995, a história da CI&T se confunde com a própria história da Internet. 

Recém-formados na Unicamp, Gon, Matt e Guiçardi criaram uma das primeiras empresas brasileiras a produzir software sob encomenda para diversos tipos de negócios. 
 
Em 2005, a CI&T entrou também nos Estados Unidos e, de cara, arrematou clientes do porte do Yahoo! – o Google da época. 
 
A metamorfose da CI&T de uma ‘fábrica de softwares’ para consultoria de estratégia nasceu de uma necessidade interna. Com operações nos Estados Unidos e expansão para outros países, Gon já não conseguia mais dar conta do comando. “Ou eu colocava um gringo moderninho para comandar ou me reinventava,” diz. 
 
Decidiu incorporar a estratégia ‘lean’, que a empresa já utilizava como modelo de produção para os softwares, também no modo de liderança. 
 
Oriundo do toyotismo, o modelo ‘lean’ se caracteriza pela tomada de decisão descentralizada e pelo poder de cada equipe de resolver problemas e mudar processos – mantendo ao mesmo tempo a qualidade de produtos e serviços. 
 
John Shook, o americano que transportou o modelo da Toyota do Japão para as fábricas da montadora nos Estados Unidos e outros países, foi o mentor de Gon no processo.
 
“Os clientes começaram a ver o que estava acontecendo por aqui e a nos procurar também para falar de estratégia”, diz Gon. “Na primeira fase da empresa, a gente lidava com o o CTO ou o CIO [chief innovation officer] do cliente, hoje a conversa é no nível de CEO, ganhar agilidade virou prioridade para a maior parte das empresas.” 
 
A aquisição marca uma rara incursão da Advent no setor conhecido como TMT (technology, media and telecom) no Brasil. 
 
Bastante ativa nesse segmento no mundo, por aqui a atuação se resumia à Allied, uma distribuidora de produtos de tecnologia comprada em 2015. 
 
“Estamos num momento de disrupção do negócio das empresas e a CI&T é ‘state of the art’ em nível mundial,” diz Patrice Etlin, o sócio-diretor da Advent no Brasil. 
 
A compra foi feita com recursos de seu fundo LAPEF VI, de US$ 2,1 bilhões, voltado para a América Latina e captado em 2015. 
 
O caminho natural da empresa é um IPO fora do Brasil. Há duas empresas similares listadas na NYSE: a Globant, nascida na Argentina e com atuação forte nos Estados Unidos, e a inglesa Endava.  Ambas negociam a múltiplos ao redor de 20 vezes EBITDA.