Pela primeira vez em muito tempo,  a Cielo tinha notícias positivas para anunciar ao mercado. 

“Enfim, voltamos a crescer”, o CEO Paulo Caffarelli disse há pouco ao comentar os resultados do segundo trimestre. 

O volume capturado subiu 9%, o maior crescimento desde o terceiro trimestre de 2017, e tudo indica que a empresa voltou a ganhar market share — os concorrentes ainda não divulgaram seus números, mas pela ‘evolução do mercado’ a tendência é de ganho, segundo o próprio CEO. 

Mais importante: a Cielo finalmente voltou a crescer no segmento de varejo, que vai dos microempreendedores individuais até CNPJs com faturamento de R$ 15 milhões — e onde a empresa estava apanhando feio. 

É neste nicho que está a maior rentabilidade, a maior concorrência e o maior potencial. (No segmento de ‘grandes contas’, o cliente tem mais poder de negociação nas taxas.)  

De acordo com Caffarelli, em junho, o ritmo de crescimento de varejo voltou ao mesmo patamar das grandes contas. 

Hoje, 60% do volume da empresa vem de grandes contas e 40% do varejo. Caffarelli disse que o objetivo é inverter a pirâmide, com 35% do volume vindo das grandes contas e 65% do varejo. 

Desde que começou a venda de maquininhas, há 14 meses – antes a empresa trabalhava apenas no modelo de aluguel – a Cielo já vendeu 850 mil unidades das marcas Cielo e Stelo. A expectativa é bater o primeiro milhão até outubro. 

Num mercado em que a competição está em níveis históricos, a rentabilidade diminuiu: o ‘yield da receita’ (receita média gerada sobre o volume capturado) foi para 0,82% no segundo trimestre, contra 0,93% nos três primeiros meses do ano. EBITDA e lucro recuaram 33% no segundo trimestre frente ao mesmo período de 2018. 

“Estamos optando por ganhar market share: tenho escala, e ganhando escala consigo ser mais competitivo do que quem não tem market share; escala é preço”, disse Caffarelli, ressaltando que está entregando os resultados da estratégia que vem prometendo desde que chegou ao comando da credenciadora no fim do ano passado. 

Enquanto está otimista com o crescimento, Caffarelli reconhece que “o segmento continua sob pressão no que diz respeito à questão de preço.” 

“O ambiente está extremamente competitivo, a adquirência é a grande aposta de bancos, fintechs, varejistas, empresas de TI….  Adquirência virou commodity”, disse o CEO. 

Boa parte da redução do yield veio das contas adicionadas. Até agora, metade da base dos clientes já teve o preço renegociado – e ainda faltam os 50% restantes, o que sugere que ainda há espaço para queda. 

A Cielo lançou novas iniciativas para aumentar a rentabilidade no segmento de aquisição de recebíveis: está entrando no chamado ‘crédito fumaça’, em que adianta o pagamento de até 2 vezes o faturamento mensal do varejista em 48 horas. 

Esse era um nicho exclusivo dos bancos – e como tem mais risco que a antecipação pura e simples, tem juros mais altos, de 2% a 3% ao mês. Por enquanto ainda em versão piloto, o estoque emprestado é de apenas R$ 40 milhões, mas a modalidade, chamada de ‘Receba Mais’, tem potencial para chegar a R$ 1 bilhão em 12 meses quando o produto for oficialmente lançado, nas projeções da empresa.

A antecipação é feita tanto com funding do Bradesco, um dos acionistas da Cielo, quanto por um FIDC próprio. 

“Cada vez é mais importante que a Cielo tenha sua autonomia para atuar de forma competitiva no mercado”, disse Caffarelli, ao ser questionado se a modalidade não poderia implicar um conflito de interesse com os sócios.  “Os sócios estão sendo desafiados por outras adquirentes e concorrentes, então é melhor que a Cielo faça isso dentro de casa”. 

E a Cielo pode abrir seu próprio banco, como vem fazendo as concorrentes? “Isso é para o futuro”, desconversou.

Na B3, as ações da Cielo sobem 3,3% por volta do meio-dia, a R$ 6,97.

“O resultado é bem misto, dá pra ver o copo meio cheio ou meio vazio”, diz um analista que acompanha a empresa. “Pelo menos, não está mais horroroso”.