Mais de 90% do mercado de benefícios é dominado por quatro players — Alelo, Sodexo, Ticket e VR — e o setor funciona mais ou menos do mesmo jeito há anos, sem grandes inovações.
Pudera: as companhias do setor ganham algo entre 6% e 7% do valor que os funcionários das empresas gastam do benefício, bem mais do que as taxas de cartões de crédito e débito.
Mas como margens suculentas sempre atraem outsiders, o mercado agora tem um novo entrante: a Caju, uma startup fundada no ano passado e que acaba de levantar R$ 13 milhões para tentar chacoalhar o oligopólio.
A rodada de seed money foi liderada pela Valor Capital, a gestora de Scott e Clifford Sobel, e pela Canary, e atraiu o investidor-anjo-onipresente do mercado de VC: Ariel Lambrecht, o fundador da 99.
A Caju está oferecendo uma experiência mais agradável: em vez de carregar um cartão para cada tipo de benefício na carteira (como acontece com as concorrentes), a Caju desenvolveu um sistema que permite concentrar todos os benefícios num único cartão.
Mais: o usuário pode realocar recursos de um benefício para outro, ficando mais ‘dono’ do dinheiro.
O software da Caju aloca os recursos em seis contas — alimentação, refeição, mobilidade, cultura, saúde e educação — e, na hora de pagar, identifica o tipo de estabelecimento onde o usuário está gastando e subtrai da conta certa. (É o mesmo tipo de conveniência oferecido por concorrentes como a Flash App e a Vee Benefícios.)
Hoje, Alelo, Sodexo, Ticket e VR competem essencialmente no rebate que pagam às empresas que contratam seus serviços.
Traduzindo para quem não é do ramo: elas devolvem às contratantes um pedaço do que ganham dos lojistas nas transações com os cartões. A contrapartida é ter acesso a sua carteira de funcionários. Como todas oferecem mais ou menos o mesmo serviço, as contratantes acabam escolhendo a empresa que oferece as melhores condições comerciais.
“Isso chega a ser anti econômico: o rebate é uma espécie de cashback que poderia estar indo para o funcionário mas está ficando com a empresa,” Eduardo del Giglio, o fundador da Caju, disse ao Brazil Journal.
A Caju escapa deste modelo por adotar outro tipo de monetização: como emissora de um cartão Visa, a startup fica com a taxa de intercâmbio, algo ao redor de 1,5% das transações.
A Caju já atende 15 mil funcionários em cerca de 400 empresas, e é particularmente forte entre startups como Loft, Gupy e Revelo.
Mas o desenho atual da Caju torna difícil para ela atender grandes companhias que usam o benefício fiscal do PAT, o Programa de Alimentação do Trabalhador — privando-a de atacar uma parte relevante do mercado.
Mais de 20 milhões de beneficiários estão cadastrados no PAT para receber vales-alimentação e refeição, mas, por determinação legal, o PAT só pode ser usado nos chamados ‘arranjos fechados’, em que a companhia de benefícios emite o cartão, e depois processa e liquida a transação na ponta.
Para entrar nesse filão, até o fim do ano a Caju deve lançar um arranjo fechado de pagamentos, cadastrando estabelecimentos e fazendo a etapa final do processamento e liquidação. Neste modelo, Eduardo diz que a empresa vai cobrar uma taxa de cerca de 3% por transação dos lojistas — metade da média que as empresas de benefício cobram hoje.
Para as startups e PMEs ter um arranjo fechado é indiferente. Mas, para algumas grandes empresas, é um ‘big deal’.