O Governo ouviu as queixas da indústria automobilística contra a possibilidade de extensão dos benefícios tributários para a BYD.

O Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) se posicionou hoje contra um pleito da montadora chinesa: não aceitou diminuir as tarifas cobradas sobre os carros desmontados que virão da China para ser finalizados na fábrica que a BYD está erguendo em Camaçari.

Atualmente, os kits pré-montados de elétricos entram no País pagando imposto de importação de 18%, enquanto os híbridos pagam 20%. A chinesa havia pedido uma redução dessas alíquotas para 5% e 10%, respectivamente.

A Camex, no entanto, atendeu parcialmente a um pedido da montadora: concedeu uma cota de US$ 463 milhões para a importação de carros prontos ou desmontados que poderão entrar no País com alíquota zero nos próximos seis meses. A cota vale para todas as importadoras. A BYD queria US$ 2 bi de isenção ao longo de doze meses.

Alexandre Baldy ok

O Governo decidiu ainda que será antecipada para janeiro de 2027 – e não mais julho de 2028 – a cobrança de tarifa cheia de 35% para os elétricos importados desmontados (kits CKD e SKD). Para os elétricos prontos, a alíquota de 35% valerá a partir de julho de 2026, equiparando o tributo ao que é cobrado sobre os veículos a combustão. As tarifas estão hoje em 26%.

Dias antes da reunião de hoje da Camex, os CEOs das maiores montadoras instaladas no País – Stellantis, Volkswagen, General Motors e Toyota – enviaram uma carta conjunta ao Presidente Lula afirmando que a importação de veículos desmontados “representaria um legado de desemprego, desequilíbrio comercial e dependência tecnológica” e um impacto “deletério” em toda a cadeia de produção.

Os governadores dos estados onde estão as montadoras instaladas há tempos no Brasil também se mobilizaram e enviaram uma carta a Geraldo Alckmin, Vice-Presidente e Ministro de Indústria e Comércio, pedindo que a Camex não concedesse o benefício à BYD.

“As medidas em análise, se aprovadas nos moldes pleiteados, podem representar risco de desestímulo à industrialização local e gerar efeitos adversos na cadeia automotiva como um todo,” escreveram Romeu Zema, Eduardo Leite, Carlos Massa Ratinho Júnior, Jorginho Mello, Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas.

Ainda de acordo com esses governadores, “a substituição da produção local por montagens de kits importados com baixo valor agregado tende a comprometer empregos, fragilizar fornecedores nacionais e enfraquecer a política industrial construída ao longo de décadas”.

Hoje pela manhã, horas antes da reunião do conselho da Camex, a BYD publicou um texto no qual afirmou que as antigas montadoras “pedem, com todas as letras, que o Governo impeça a redução temporária dos impostos para quem ousa oferecer carros melhores por preço mais justo.”

A chinesa disse ainda que a carta das montadoras “tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro.”

“Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam,” diz o texto da empresa, cuja operação no País tem Alexandre Baldy como vice-presidente.

Segundo a BYD, a pleiteada redução temporária das tarifas é justificada porque parte das operações será feita no Brasil, criando empregos locais, enquanto a linha de montagem não fica pronta.

“O que a BYD propõe não é um atalho nem uma esperteza fiscal” – mas “um movimento estratégico” para a marca e para o País.

A China produz mais de 30 milhões de carros por ano, acima do que seu mercado local consegue absorver – ainda mais agora, com a economia em desaceleração. 

Resultado: um aumento expressivo das exportações, principalmente dos modelos elétricos.

O Brasil é uma peça relevante na estratégia, e a maior montadora chinesa está ganhando share rapidamente na garagem do brasileiro – já aparece em quinto lugar no ranking de vendas no País.

A montadora chinesa vem se beneficiando de incentivos fiscais com a promessa de começar a produzir seus carros em Camaçari, na antiga fábrica da Ford na região metropolitana de Salvador.

O início da operação, entretanto, deverá funcionar ao estilo das maquiladoras, com a montagem de partes e peças totalmente made in China.