Do otimismo no início do ano, com grande alocação tanto de estrangeiros como de locais, a Bolsa brasileira passou a ser uma das mais ‘vendidas’ do mundo.
Mas agora o pessimismo foi longe demais, e não se trata apenas de múltiplos historicamente baixos, na visão de Bruno Savaris, gestor do multimercado Itaú Hunter.
Savaris, que se autodenomina um “pessimista por natureza,” disse que a perda de atratividade da renda fixa e o excesso de prêmio na Bolsa – com empresas ganhando margem – favorecem a valorização de papéis que estão muito descontados em relação a seus pares internacionais.
Na carta mais recente do fundo, Savaris elencou os fatores que, em sua avaliação, dão sustentação à tese de que há ótimas oportunidades a serem capturadas no mercado acionário brasileiro.
A carta foi escrita antes da abertura nos yields dos Treasuries ocorrida ontem.
Para Savaris, mesmo que leve mais tempo para os juros caírem nos EUA, a deterioração no preço dos ativos brasileiros já foi quase toda precificada. Além disso, o crescimento econômico mais forte que o previsto, tanto no Brasil como nos EUA, beneficia o lucro de companhias locais.
Outro ponto é a menor atratividade da renda fixa daqui para frente.
“Além de vislumbrarmos juros de um dígito até final de 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) regulamentou a emissão dos produtos isentos, o que deveria aliviar a concorrência por capital,” diz a carta.
“No mais, a entrada de fluxo na renda fixa acabou resultando em descompasso com a oferta de novos títulos privados, fazendo com que os spreads tenham ficado, recentemente, bastante apertados.”
Para Savaris, o ciclo de queda dos juros aliado aos ajustes feitos pelas empresas – ampliando margens e lucros – contribuem para a visão construtiva da Bolsa, particularmente dos papéis dos bancos e de algumas empresas de bens de capital e logística.
“Se fizermos uma comparação entre uma cesta de empresas domésticas brasileiras de alta qualidade versus uma cesta de empresas de alta qualidade nos EUA, combinando exposição a diversos setores da economia, veremos que historicamente o Brasil encontra-se bastante descontado,” afirma.
Para o gestor, com estimativas de lucros melhores e múltiplos mais de 1 desvio padrão abaixo do histórico, há uma assimetria relevante na Bolsa brasileira.
Colocando tudo na balança, o gestor nota que, se as empresas voltarem a negociar em seus múltiplos históricos, a TIR na média ficaria em torno de 18,5% – um spread favorável de quase 7 pontos percentuais em relação à renda fixa, assumindo Selic terminal de 9,5%.
Outro ponto importante é que tanto os gestores locais como estrangeiros estão muito leves em posições na Bolsa brasileira e deverão, em breve, ampliar a sua alocação – mais uma vez, algo que deverá ajudar na valorização.
Nesse cenário, Savaris vê oportunidades principalmente no setor financeiro, dada a previsão de retomada do crédito, e em bens de capital, um setor que sofreu durante a pandemia e agora tem mostrado melhora substancial na rentabilidade, além de algumas exportadoras.
“Até um cara pessimista como eu vê que as coisas estão alinhadas,” diz Savaris.
O que pode dar errado na tese?
Hoje o diferencial de juros brasileiro versus o americano está em patamares muito baixos, em torno de 4%, o que é 1 ponto percentual abaixo da média história. Esse fator, aliado ao baixo diferencial de crescimento econômico entre Brasil e os EUA, deixa a Bolsa local mais exposta a eventuais solavancos da macroeconomia global, afirma Savaris.
Em outras palavras, o grande risco é uma crise nos EUA que jogue os juros para cima e derrube os mercados – algo que o gestor considera, nas atuais circunstâncias, praticamente um black swan.