O argentino Mariano García-Valiño fez sua carreira no setor de saúde: foi executivo da Pfizer, trabalhou no Warburg Pincus cobrindo o setor e fundou a Biotoscana – a empresa de medicamentos de alta complexidade vendida para a Knight Therapeutics.
Mariano deixou a Biotoscana pouco antes da venda, e dois anos depois empreendeu de novo, criando uma startup que monitora doenças crônicas conectando-se a dispositivos como balanças e medidores de pressão e glicose.
A Axenya começou com US$ 1 milhão de capital próprio de Mariano e Renato De Giorgi, seu cofundador na Biotoscana.
“No primeiro ano, gastamos esse US$ 1 milhão inteiro apenas para fazer pesquisa clínica, sem nem começar a operar,” o empreendedor disse ao Brazil Journal.
Com os estudos, a Axenya conseguiu provar que seus sistemas de monitoramento conseguiam reduzir em 1 ponto percentual o nível de hemoglobina glicada de pacientes com diabetes.
Parece pouco, mas essa redução diminui o risco de ataque cardíaco em 14%, o risco de derrame em 12%, e o risco de morrer por diabete em 21%.
Além disso, essa redução na glicose mexe diretamente no bolso das operadoras, diminuindo em cerca de 13% o custo de lidar com um paciente com diabetes de tipo 1, que hoje gira em torno de US$ 10.000 por ano no sistema privado.
No final do ano passado, a Axenya levantou outros US$ 4 milhões com fundos como Big Bets, Alexia Ventures, NXTP e Igah Ventures para começar a escalar o negócio, vendendo sua solução para empresas.
Em um ano, conseguiu oito clientes (principalmente planos de saúde) que somam mais de 10 mil vidas e pagam uma assinatura mensal por vida.
Agora, a healthtech acaba de fazer um movimento transformacional – se fundindo com a corretora de planos de saúde HealthCo e verticalizando seu negócio. (Antes a Axenya tinha que passar pela operadora para chegar nas empresas; agora vai acessá-las diretamente).
A transação foi estruturada como uma troca de ações, com os fundadores da HealthCo ficando com 18% do capital da nova empresa.
A HealthCo – que vende apenas planos empresariais – vai adicionar 32 mil vidas ao negócio, elevando o faturamento da Axenya para R$ 5 milhões este ano. Em 2023, a expectativa é faturar R$ 25 mi.
A sinergia é clara. Diferente da maioria das corretoras, cuja comissão é uma porcentagem do custo de saúde das empresas, a HealthCo cobra um valor fixo por vida – mais um variável em cima das reduções dos custos com sinistralidade que ela conseguir gerar ao longo do contrato.
Os sistemas da Axenya vão ajudar justamente nessa frente.
A startup desenvolveu sistemas que monitoram doenças crônicas como diabetes, obesidade, hipertensão e colesterol – que representam em torno de 30% de toda a sinistralidade dos planos. Nos próximos meses, ela vai lançar também um sistema para monitorar a saúde mental, a qualidade do sono e o tabagismo.
“Até metade do ano que vem queremos monitorar 80% das sinistralidades,” disse Mariano.
A tese é que ao aplicar os sistemas de Axenya nas empresas clientes da HealthCo, ela conseguirá conter melhor os custos das empresas com saúde, turbinando sua receita variável e atraindo novos clientes.
Hoje, a HealthCo já entrega números impressionantes. Em 2020 e 2021, ela conseguiu reajustar seus planos em apenas 2,5% e 6,3%, em comparação a um reajuste médio do mercado de 20% e 26%.
Onde está a mágica?
“O primeiro ponto é que a HealthCo se importa em reduzir custos, tem alinhamento. Mas além disso eles têm um sistema que primeiro faz uma análise demográfica e histórica da população do plano; depois eles fazem uma pesquisa com as pessoas; e por fim eles selecionam algumas pessoas para monitorar invidualmente,” disse Mariano.
Segundo ele, esse monitoramento é feito hoje de forma manual, o que faz com que a HealthCo consiga monitorar apenas uma pequena parcela da população dos planos (em torno de 10%).
“Com nosso sistema vamos poder escalar isso para 100% da população dos planos.”