O mercado americano de aeronaves de ‘small narrow body’ está ganhando momentum, e para o Bradesco BBI, a Embraer será uma das grandes beneficiárias. 

O analista Victor Mizusaki publicou hoje um relatório com os principais pontos de uma reunião que teve com Nigel Patterson, o vp de vendas e marketing e head da operação da América do Norte; o CFO Antonio Garcia; o diretor de marketing regional André Cavalca; e o head de RI e M&As, Guilherme Paiva.

Na conversa, Patterson disse que a Embraer tem “a aeronave certa” para explorar o mercado de aviação comercial americano para aeronaves de 100 a 150 assentos – referindo-se ao modelo E2, que foi lançado em 2019 pela companhia e que ainda não ganhou tanta tração.

A Embraer estima que este seja um mercado de 1.300 aeronaves nos próximos 20 anos, e que a companhia possa capturar 500 desses pedidos. 

Para quem não é do ramo, há três perfis de aeronaves comerciais de menor porte: as chamadas aeronaves regionais, que têm até 76 assentos e que a Embraer domina globalmente com o 175; as small narrow-body, de 100 a 150 assentos e com um único corredor; e as narrow-body, que tem entre 180 e 190 assentos, e dominado pela Boeing e Airbus com modelos como o A320, A321 e o 737 MAX. 

A perspectiva de uma forte demanda pelas small narrow-body tem a ver com uma mudança estrutural nos EUA, com a migração da população de grandes metrópoles como Nova York para cidades pequenas e médias.

“Essas cidades são mal atendidas tanto pelas principais companhias aéreas quanto pelas low-cost e pelas empresas regionais, pela escassez de pilotos no pós-covid,” escreveu Mizusaki. “Agora, a escassez de pilotos está melhorando e as companhias aéreas americanas precisam reestruturar suas redes para servir esses novos destinos.”

Na visão do analista, isso vai demandar que as empresas do setor operem com as small narrow-body, já que esses trechos não têm demanda suficiente para justificar o uso de uma narrow-body, que operaria com uma alta vacância.  

Hoje, os principais modelos de small narrow-body são a família E2 (da Embraer) e a A220 (da Airbus). “Mas os E2s são as aeronaves mais eficientes da categoria em termos de custo,” disse o Bradesco.

O modelo E195-E2, por exemplo, tem um custo por assento 5% menor que o A220, 12% menor que o 737-700 (da Boeing) e 5% menor que o 737 MAX7. 

Além da diferença de custo, o Bradesco disse que a Embraer deve ganhar market share nesse nicho nos próximos anos pelo sucesso da operação da canadense Porter Airlines com as aeronaves E2 e por conta da indicação de Patterson — um vetereno com mais de 30 anos de indústria — para o cargo de head da América do Norte. 

A Porter comprou 80 aeronaves E2 para ligar cidades de médio porte dos EUA ao Canadá, e tem conseguido ganhar dinheiro com a operação. 

“As companhias aéreas têm um claro incentivo para aumentar o uso desses aviões menores,” diz o relatório. “Desde 2015 as companhias aéreas americanas aumentaram a capacidade em 20% e o número de destinos em apenas 1%, o que resultou numa competição brutal por conta do overlap cada vez maior entre as redes. Portanto, o E2 poderia ser a solução para essas companhias aumentarem suas tarifas e margens, servindo novos destinos com baixa ou nenhuma competição.”

Na conversa com o Bradesco, Patterson admitiu que a competição com a Airbus é dura, já que a concorrente tem vantagem nos pedidos em bundle de aeronaves (ordens que misturam diferentes modelos). 

Ele disse, no entanto, que as grandes encomendas de aeronaves como o 737 MAX e os A320 Neos já foram feitas, e a Embraer agora compete de igual para igual com o concorrente. 

O Bradesco vê a Embraer bem posicionada para disputar 271 novas encomendas que grandes companhias como a American Airlines terão que fazer para renovar suas frotas. Esses pedidos poderiam adicionar US$ 3 bilhões ao backlog de US$ 14 bi da companhia — ou US$ 3,40 por ação ao valor justo da empresa. 

O banco manteve sua recomendação de compra para o papel com preço-alvo de US$ 27. A Embraer é a ‘top pick’ do Bradesco no setor de capital goods junto com a Marcopolo. 

O ADR fechou hoje a US$ 17,89. A Embraer vale US$ 3,3 bi na NYSE.