A CSN está comprando uma participação minoritária na H2Pro, uma startup israelense dona de uma tecnologia que promete baratear a produção em larga escala do hidrogênio verde.

O investimento faz parte de uma rodada Série A liderada pela Temasek e que teve a participação de diversos fundos, incluindo o Breakthrough Ventures, de Bill Gates, que já era investidor na companhia.

11887 607bc058 d16b 198f d502 14d5586e2d94A CSN entrou na rodada, de US$ 75 milhões, por meio do CSN Ventures, seu braço de corporate venture capital.

O hidrogênio verde é uma substância que pode ser usada para substituir os combustíveis fósseis em basicamente todos os seus usos — do combustível do caminhão à produção do aço (daí o interesse da CSN).

Mas o custo de produção ainda é alto, inviabilizando o uso em larga escala.

A H2Pro está tentando resolver esse problema.

Fundada em 2019, a startup foi fundada por Talmon Viber e por um time de pesquisadores da Universidade Technion, uma das principais de Israel. Dos 50 funcionários, nove são PhDs.

Para entender o que a H2Pro está fazendo, é preciso voltar às aulas de química (deixando o trauma de lado) e entender como se pode obter o hidrogênio – já que ele não ocorre em estado puro na Terra, apenas em associação com outros elementos.

Basicamente, a forma mais simples de se obter o hidrogênio é pelo processo de eletrólise: uma carga elétrica que separa a molécula de água, divorciando o hidrogênio do oxigênio. (O hidrogênio verde é aquele que é produzido usando apenas energia de fontes renováveis).

Durante a eletrólise, para evitar que as duas moléculas se misturem, é preciso ainda colocar uma membrana no meio, garantindo que o compartimento de oxigênio tenha só oxigênio, e o de hidrogênio, só hidrogênio.

“O grande pulo do gato da H2Pro foi conseguir criar um processo produtivo que elimina a necessidade dessa membrana, conseguindo baratear em cerca de 15% a produção em comparação a outras startups que produzem hidrogênio verde,” Felipe Steinbruch, o head da CSN Inova, disse ao Brazil Journal.

Para isso, a startup criou uma tecnologia que faz a produção do hidrogênio e do oxigênio em dois ciclos separados, evitando que eles se misturem.

A H2Pro — cujo nome também foi uma bela sacada — acaba de passar da fase de testes em laboratório e vai usar os recursos da rodada para construir uma fábrica de testes. Se o processo funcionar nesta fábrica, ela já poderia começar a escalar a produção.

A estimativa da startup é que em 2023 ela já estará produzindo hidrogênio verde em larga escala, e a um preço acessível. Se tudo der certo, a H2Pro conseguiria produzir o hidrogênio verde a US$ 1 por kg (ou menos) — cinco vezes menos que o custo médio de hoje.

Isso seria especialmente importante para siderúrgicas como a CSN, porque permitiria acelerar seu processo de descarbonização. Hoje, o setor é um dos principais emissores de CO2 do mundo.

O hidrogênio verde poderá substituir, por exemplo, o carvão na produção de aço e de cimento — o que, no limite, permitiria à CSN se tornar ‘carbono zero’.

“Para chegar em ‘carbono zero’ precisaríamos de investimentos altos para adaptar todo o parque industrial,” disse Felipe. “Mas já poderíamos usar o hidrogênio verde em vários processos que não precisam de investimento… Num queimador de cimento que usa carvão hoje, por exemplo, poderíamos introduzir o hidrogênio e reduzir as emissões em 15%-20%. É um processo gradual.”

O CSN Ventures já fez outros cinco investimentos desde que foi criado no início do ano passado.

Um deles foi na 1S1, uma startup de São Francisco que também está tentando baratear e escalar a produção de hidrogênio verde — mas com um approach diferente da H2Pro.