O Gympass, um plano de benefício corporativo que dá acesso a academias, está discretamente se transformando de uma boa sacada local — nascida no segundo país com maior número de academias — num negócio global.
Fundado há cinco anos, o Gympass já está em 10 países incluindo França, Alemanha, Holanda, Itália e Reino Unido. A próxima fronteira: os EUA.
A startup já passou por cinco rodadas de capital. A mais recente — em setembro — foi liderada pela General Atlantic, que já investiu na XP Investimentos e nas farmácias Pague Menos. Investidores de rodadas anteriores incluem a Valor Capital Group, gestora do ex-embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, e o Atomico, fundo de venture capital de Niklas Zennström, um dos co-fundadores do Skype.
O Gympass é um benefício corporativo feito sob medida para um mundo cada vez mais preocupado com saúde e atividade física: com ele, o funcionário de uma empresa consegue fazer visitas ilimitadas a múltiplas academias — e paga menos da metade da mensalidade normal.
Tipicamente, o RH de uma empresa contrata o Gympass e monta cinco opções de planos. Cada funcionário escolhe o seu, dependendo do que estiver disposto a pagar. Os planos variam de R$ 20 a R$ 350 por mês. (Quando paga R$ 20, o funcionário tem acesso a academias cuja mensalidade é de cerca de R$ 50; quem paga R$ 350 acessa academias de R$ 750.) Já a empresa paga uma taxa de administração que é função do número de funcionários elegíveis e do perfil das academias que serão usadas.
A ideia por trás do Gympass é poderosa por agradar às três partes envolvidas: as empresas vêem o plano como um benefício a mais num pacote de incentivos; os funcionários percebem valor ao pagar menos do que pagariam; e as academias se beneficiam do fluxo extra de clientes em tempos de recessão e alta ociosidade.
Só no Brasil, o Gympass já tem 14 mil academias na sua base — metade de todas as academias do País.
Até agora, a adesão média dos funcionários das empresas que contratam o Gympass tem sido de 30% — seis vezes acima do percentual de brasileiros que frequentam academias, que é de 5%.
“Estamos aumentando o mercado trazendo pra atividade física gente que estava fora das academias, e ajudando a diluir o custo fixo,” diz Cesar Carvalho, que fundou a Gympass com seus dois sócios, Vinicius Ferriani e João Thayro. Cesar e Vinicius eram colegas de McKinsey, e conheceram João quando trabalharam juntos num projeto na CVC. (Cesar trancou um MBA em Harvard para fundar a empresa; Vinicius trancou o MIT.)
Outras estatísticas colhidas pela empresa dão aos fundadores a certeza de estar no caminho certo: 80% das pessoas que aderem ao Gympass não eram membros de nenhuma academia e, segundo um cliente da empresa, os funcionários ativos em exercícios físicos estão custando 27% a menos no plano de saúde.
Uma fábrica da Unilever em Campinas registrou 50% de adesão ao Gympass. Meses depois, a companhia cruzou os dados e descobriu que os funcionários que mais frequentam a academia faltam ao trabalho 20% menos do que os funcionários que não aderiram. “A produtividade fabril é sensível ao absenteísmo,”diz Cesar. “A gente comparou quanto de salário a fábrica deixou de perder em virtude de faltas com o quanto ela gastou com o Gympass e chegamos a um ROIC [retorno sobre o capital investido] de 40%.”
A lógica do Gympass é escalar o modelo de negócios globalmente o mais rápido possível, mas, fiel a seu DNA mineiro, Cesar quer dar um passo de cada vez. “Queremos garantir que os países que a gente já lançou funcionem tão bem quanto o Brasil.”
Tanto a expansão no Brasil quanto a internacional está se dando da forma mais orgânica possível: o Gympass abre novas praças para atender às necessidades dos clientes. Foi assim que, para atender à PwC — um de seus primeiros contratantes — o Gympass abriu sua operação no México e, de lá, foi para a Espanha.
“Somos um negócio de margem baixa e volume alto,” diz Cesar. “Seguir a cauda dos clientes nos ajudou a crescer de forma mais eficiente e com um produto que faça sentido.” Todos os produtos do Gympass são customizados: os cinco planos disponíveis aos funcionários da Unilever são diferentes dos cinco planos feitos para o Santander.
Ao contrário de uma startup cujo coração é um algoritmo, a tentativa de globalização do Gympass, ainda em seus primórdios, vai mostrar as dificuldades de se escalar um negócio que envolve gente e sola de sapato.
Para dar o próximo passo, Cesar acaba de se mudar para Nova York para estudar o mercado americano. Quando o Brazil Journal falou com ele por FaceTime há alguns dias, o apartamento alugado em Gramercy ainda estava cheio de caixas fechadas, e Cesar dormia num colchão no chão — sozinho. Grávida de oito meses, sua mulher não pode viajar de avião e terá que ficar em Madri — a parada anterior do casal — até o ano que vem.
“Se existe uma verdade nesse mundo é que a minha mulher me ama, porque eu já fiz ela mudar de cidade quatro vezes.”
Os pais de Cesar, que moram no interior de Minas, não entendem bem o que ele faz e acham tudo muito arriscado. Sempre que vêem um concurso público interessante, aconselham o filho a mudar de rumo.