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Beto Abreu
O mundo chega na COP30 com uma pergunta incômoda: ainda há tempo para transformar compromissos em ação?
O aquecimento global já não é só mais uma projeção, está presente em ondas de calor recordes, secas prolongadas e enchentes devastadoras. É nesse contexto que o Brasil assume o palco principal da agenda climática global em novembro.
A presidência brasileira da conferência fala em “era da implementação”. Após décadas de negociações e discussões para endereçar, de forma efetiva, a questão climática, é hora de unirmos forças e recorrermos ao conceito de mutirão defendido pelo embaixador André Corrêa do Lago. É hora de transformarmos promessas em prática, com métricas claras, financiamento consistente e colaboração entre governos, empresas e sociedade civil.
Para que a implementação aconteça é preciso, portanto, de ação.
A agenda global deve priorizar soluções exequíveis e de alto impacto no curto prazo, uma das vantagens, por exemplo, das soluções que aliam conservação, reflorestamento e restauração de florestas tropicais no processo de remoção de dióxido de carbono da atmosfera.
Essas soluções, que são baseadas na natureza, vão para além do armazenamento de carbono, incluem serviços ecossistêmicos essenciais para a vida humana, como regulação hídrica, proteção do solo e regeneração da biodiversidade.
Priorizar essas soluções implica em dar foco em ações, estratégias e fluxo financeiro que ampliem integridade, perenidade e, também, oportunizem soluções escaláveis que incluam as comunidades das florestas, as quais estão entre as principais vítimas das mudanças climáticas.
E não há melhor local para se discutir o papel das soluções baseadas na natureza para uma transição climática justa do que o Brasil. Abrigamos a Amazônia, vital para o equilíbrio climático global, mas ainda registramos taxas elevadas de desmatamento ilegal e temos quase 30% dos municípios amazônicos de pequeno porte considerados vulneráveis a secas, enchentes e outros eventos extremos.
É com base nessa realidade que precisamos discutir como metodologias, regulamentos, legislações de padrões de manejo, cálculo de indicadores de clima e biodiversidade e de créditos de carbono podem impulsionar as soluções baseadas na natureza, em especial considerando as peculiaridades do sul global.
É fundamental que essas metodologias e regulações evoluam por meio de um espírito de cooperação entre todos os atores da agenda climática, promovendo uma governança climática verdadeiramente inclusiva e eficaz.
E o Brasil, como uma das lideranças dessa agenda, precisa ter voz ativa e influenciar para que tais regras considerem a riqueza, as dinâmicas regionais e a diversidade, protegendo o que temos de mais valioso e transformando biodiversidade, bioeconomia e ativos naturais em pilares, inclusive econômicos, de um futuro melhor.
O Brasil deve se fazer ser ouvido antes, durante e após a COP30. Deve provocar reflexões sobre financiamento em condições adequadas e compatíveis com o desafio enfrentado por nossa geração, e, ao mesmo tempo, ser um parceiro estratégico na construção de soluções globais.
A superação dos desafios climáticos exige uma mobilização coletiva global, imediata e inovadora que considere as diferentes vozes, desde os povos tradicionais, populações ribeirinhas e, também, o setor empresarial, bancário, especialistas e cientistas de todas as regiões do mundo, junto com governos e estados.
A conferência em Belém pode ser o ponto de inflexão para alcançarmos de fato resultados reais e materiais, mas exigirá coragem para rever modelos de negócio, somar visões, construir pontes e colocar o clima no centro das discussões.
Afinal, o mundo cobra avanços concretos: emissões controladas, florestas conservadas, bioeconomia fortalecida e transição justa, pilares de uma nova governança climática global.
*Beto Abreu é presidente da Suzano






