O agronegócio ocupa há anos uma posição de destaque na economia brasileira — tendo sido a alavanca do PIB do ano passado. 

Para fazer jus à relevância do setor, o Bradesco BBI realizou, em São Paulo, sua 1ª Conferência do Agronegócio: o Agro Summit. 

Os painéis reuniram alguns dos nomes mais influentes da indústria agropecuária, além de outros setores da economia e do poder público, para discutir o atual cenário e as perspectivas.

O primeiro painel focou em um aspecto central para a perpetuidade do setor: a sustentabilidade. A discussão foi encabeçada por Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura; Francisco Matturro, Diretor Executivo da Rede ILPF; e Silvia Massruhá, presidente da Embrapa. A mediação foi do diretor de agronegócio do Bradesco, Roberto França, e do head de ESG do investment banking do Bradesco BBI, Caio Andrade.

Roberto defendeu que a solução para questões como segurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social passam pela tecnologia tropical sustentável desenvolvida no Brasil. 

Sua leitura é de que a tecnologia é facilmente replicável em outros países de clima tropical e, por isso, o Brasil deve exportá-la, liderando o esforço para combater esses problemas.

Silvia reconheceu os avanços da tecnologia, mas disse que é necessário agregar a ela indicadores de sustentabilidade baseados em metodologias internacionais reconhecidas. 

Segundo ela, esse é um passo essencial para ampliar a penetração dos produtos brasileiros em mercados mais exigentes. Já Francisco defendeu a integração da lavoura, pecuária e floresta como caminho para a sustentabilidade econômica das propriedades rurais — dado que ela permite mitigar riscos e aumentar a produção de alimentos.

Combustível verde 

No evento, também houve um debate sobre biocombustíveis com a participação de Ricardo Mussa, CEO da Raízen; e Erasmo Battistella, CEO da Be8. O mediador foi o analista de petróleo & gás e ESG do equity research do Bradesco BBI, Vicente Falanga.

Ambos destacaram a competitividade do etanol brasileiro no mercado local e mundial, mesmo sem subsídios para a indústria e tendo que disputar espaço com a gasolina na bomba — vantagem que se deve, principalmente, aos custos mais baixos.

Ricardo falou ainda sobre a nova dinâmica no segmento de combustível com o crescimento do etanol de milho. Antes restrito a poucos locais, hoje ele está mais pulverizado nas bombas, sendo um substituto à gasolina. 

Para Erasmo, a grande área a ser explorada em segunda safra e o montante de áreas degradadas a serem recuperadas também são uma notícia positiva para o setor, que pode expandir a produção das matérias-primas do etanol nessas propriedades e, com isso, seguir entrando em mais regiões, inclusive internacionais.

Proteínas cruzam fronteiras

Enquanto o Brasil caminha a passos largos em setores como o de biocombustível, em outros ele já se consolidou como produtor e exportador mundial. É caso das proteínas animais. 

O painel dedicado ao assunto contou com Edison Ticle, o CFO da Minerva Foods; José Carlos Garrote, fundador e chairman da São Salvador Alimentos; e João Campos, CEO da Seara. 

A moderação foi feita pelo head de Agro do investment banking do Bradesco BBI, André Moor, e pelo analista de alimentos & bebidas e agronegócio, Henrique Brustolin.

Os painelistas concordaram que a demanda pela proteína, que já é alta, continuará crescendo, uma vez que a população mundial só aumenta e que a renda como um todo tem crescido. 

No caso do Brasil, as expectativas são igualmente ambiciosas. A combinação de terras produtivas, água em abundância, clima apropriado, mão de obra qualificada e biossegurança são os pilares que sustentam a previsão.

Os executivos ainda destacaram o aumento do número de países que têm colocado a proteína brasileira em suas mesas. Na lista de novos clientes estão Filipinas, Japão, México e Coreia do Sul. 

Outro consenso: apesar dos bons resultados do setor, as companhias enfrentam desafios quando o assunto é a expansão desse mercado, sendo a logística um dos principais. A avaliação é que não apenas os portos precisam de mais investimentos, mas também as rodovias, que fazem a ponte entre as fábricas e os navios.

De grão em grão

Para fechar a tríade dos setores que colocam o Brasil na vanguarda do agronegócio mundial, Paulo Sousa, presidente da Cargill; Luiz Dumoncel, CEO da 3Tentos; e Carlos Augusto Rodrigues de Melo, CEO da Cooxupé discutiram o cenário do mercado brasileiro de grãos.

Apesar do atraso no plantio de soja e milho no ano passado, Paulo disse que a safra de 2024 foi boa e que o Brasil tem conseguido atender a demanda global, principalmente da soja. 

Um ponto de atenção, segundo ele, é a previsão para o clima, que não mostra normalização da umidade do solo antes de meados de outubro, o que pode atrasar o plantio dos grãos nesse ano.

No café, a temperatura mais elevada e a falta de chuva afetaram a produção desse ano, que deve ser entre 7% e 8% menor que no ano passado. 

Ainda assim, Carlos acredita que o preço do grão deve viver um período melhor, impulsionado pelo maior interesse de jovens pela bebida e pela maior demanda de países não convencionais, como China, Coreia do Sul, Japão e outros do Oriente Médio.

Tanto Paulo quanto Carlos afirmam que a logística ainda representa um gargalo para o escoamento da produção, principalmente pela falta de contêiners nos portos. Os dois defendem políticas públicas e investimentos voltados para a melhoria de rodovias, ferrovias e portos.

Luiz concordou que a eficiência desses modais de transporte pode ser aprimorada, mas lembrou que o Brasil teve evoluções importantes em sua logística.

Para ele, foram elas que ajudaram a catapultar o agronegócio brasileiro para a posição que ocupa hoje, de potência mundial incontestável.

Políticas Públicas

O agronegócio de São Paulo tem ganhado cada vez mais relevância no quadro nacional.

Prova disso é sua balança comercial, que cresceu quase 10% entre janeiro e agosto, ficando empatado em primeiro lugar com Mato Grosso nas exportações do país. O resultado foi apresentado por Guilherme Piai, Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, durante painel do Agro Summit.

Em relação à produção de etanol de cana-de-açúcar, o Secretário afirmou que São Paulo tem cerca de 6 milhões de hectares dedicados à cana, o que corresponde a quase 60% de toda a plantação do país, e que a região é responsável pela produção de 50% do etanol nacional. 

Para ele, essa abundância de matéria-prima pode levar o estado a liderar o processo de transição energética.

Sobre a expansão do etanol de milho, Guilherme acredita que esse aumento não deverá prejudicar o mercado de combustível extraído da cana, previsão baseada na expectativa de aumento da demanda global pelo etanol nos próximos anos. Com isso, haverá espaço de sobra para os dois setores.

Já o painel sobre transportes teve como convidados a Secretária Executiva dos Ministério dos Portos, Mariana Pescatori, e o Secretário Executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.

Mariana falou sobre investimentos em terminais privados e concessões de terminais “A expectativa é de grandes leilões programados até 2026, principalmente em portos estratégicos para o agronegócio, como Santos, Paranaguá e Itaqui. Agilizar esses processos de leilões e concessões será fundamental para atender à demanda crescente do setor agroindustrial”, destaca.

Santoro, por sua vez, abordou a importância da parceria com estados e o setor privado para impulsionar os investimentos em rodovias e ferrovias. “Em 2024, pela primeira vez, os investimentos privados em rodovias deverão superar os públicos, com expectativas de 200 bilhões de reais em novos projetos”, afirma. 

A criação de novos corredores logísticos também foi mencionada por Santoro como uma prioridade para facilitar o escoamento de produtos agrícolas.

O Agro Summit ainda contou com um painel sobre política, com a presença do Deputado Federal, Pedro Lupion; e do Governador do Mato Grosso, Mauro Mendes.

Assista a gravação do evento e confirta mais detalhes no link.

Siga o Brazil Journal no Instagram

Seguir