Phishing, emails e mensagens com links que visam roubar dados sensíveis. Whaling, a mesma tática, mas com foco em executivos C-level.

O vocabulário das fraudes até pode soar como história de pescador, mas vai muito além e não está restrito ao ambiente digital.

Seja por métodos online como QR Code falso e clonagem de chip e de voz por inteligência artificial (IA), seja offline como abertura de contas e fraudes logísticas, comissionadas ou em contratos, os criminosos têm se tornado cada vez mais sofisticados.

Reflexo disso é uma estimativa de perdas de até US$ 130 bilhões ao ano em fraudes para as empresas da América Latina, segundo a nova pesquisa da McKinsey sobre o tema.

A boa notícia é que há uma grande oportunidade: metade dos prejuízos podem ser evitados. Uma economia que chegaria a US$ 65 bilhões na América Latina com uma estratégia preventiva e integrada, que vai desde definir o apetite ao risco a criar um Centro Integrado de Inteligência de Ameaças.

No McKinsey Talks, Patrick Rinski conversou sobre o tema com John Sato, CRO da Delta Energia, e Pedro Abramovic, CISO e Head de Prevenção a Fraudes do Banco Galicia, na Argentina. Assista aqui ao episódio ‘Gestão antifraude: como evitar perdas milionárias nas empresas’.  

Os consumidores estão de olho

Nos últimos dois anos, 54% das corporações da região registraram aumento nas perdas. No Brasil, esse índice é de 60%. Por aqui, enquanto links maliciosos como malwares e phishing são protagonistas nas ameaças digitais, a fraude logística é a campeã nas operações físicas, seja pela falsa devolução de itens, seja pelo desvio de mercadorias que não chegam aos clientes.

Maximizar as oportunidades de prevenção requer colocar o assunto no topo da agenda dos negócios, o que, hoje, não acontece em metade das empresas latino-americanas: apenas 49% dos CEOs entrevistados pela McKinsey indicam o tema como uma das suas top 3 prioridades.

mckinsey grafico

Varejistas, em especial, devem tornar suas estratégias antifraude mais focadas no cliente. Pesquisas prévias da McKinsey apontam que 70% dos consumidores só realizam transações com empresas que protegem seus dados. Mesmo assim, cerca de 40% das empresas de varejo ainda não consideram a experiência do consumidor em sua estratégia de combate a fraudes.

Uma das razões seria que, ao incluir mais camadas de proteção ao cliente, aumentaria a fricção e reduziria a retenção. O desafio para o setor é achar o equilíbrio entre prevenção e experiência do consumidor. Um caminho? Definir claramente o apetite ao risco, grau de exposição a perdas que a empresa considera aceitável. Outro passo fundamental é garantir sinergia entre as áreas de risco e negócios da empresa, a fim de construir indicadores que levem em conta as metas de receita e as perspectivas de fraudes nos processos.

Além do que se vê

Não contabilizada no montante de perdas há uma parcela daquelas não identificadas erroneamente classificada como operacional ou de crédito , que representa cerca de 15% a 35% dos prejuízos.

Dois exemplos são ilustrativos. Uma empresa de telecom descobriu que 35% de suas “vendas ruins” (clientes em default) eram fraudes de comissão o vendedor fazia vendas fictícias ao cadastrar um CPF que se tornaria inadimplente. Já um banco notou que 25% de suas inadimplências eram “créditos podres” o fraudador abria a conta, pagava tudo por alguns meses e depois não quitava mais nada.

Essas perdas são “invisíveis” devido a: (1) desafios para diferenciar fraudadores de vítimas; (2) inovações constantes dos tipos de fraude para se antecipar às ferramentas de prevenção, como o uso da GenAI para imitar vozes e driblar a autenticação; (3) automatizações e proliferação da expertise em ciberataques (compartilhamento de hacks na deep web e bots em profusão que massificam ataques a servidores, tentando enganar o captcha até garantir a fraude).

Sem padronização nas métricas de fraude e com o compartilhamento de informação limitado, mesmo quando um golpe é detectado, é difícil avaliar se uma empresa está exercendo um bom trabalho em prevenção ou gestão de ameaças.

Para ajudar a descobrir, as lideranças podem se perguntar se as políticas de gestão de fraude são revisadas com frequência e se os papéis e responsabilidades antifraude estão claros. Outra forma de mitigar riscos é escalar os talentos das áreas de prevenção à fraude para participar desde o início da jornada de criação de um serviço ou produto, permitindo à empresa ser mais proativa do que reativa na hora de prevenir.

Centros Integrados, a evolução da defesa

Se os ataques ainda não diminuem, as organizações não podem abrir mão de um Centro de Operações de Segurança (SOC) para vigiar, detectar e responder às ameaças digitais. Mas é possível ir além com o Centro Integrado de Inteligência de Ameaças (CIIA), ou fusion center. Diferente do SOC, o CIIA não se restringe apenas ao ambiente digital, aumentando em 50% o potencial de detecção de uma fraude.

Isso é possível porque o CIIA integra áreas como gestão de fraude, segurança cibernética, compliance e AML (prevenção à lavagem de dinheiro) que, por questões históricas, não compartilham informações. Não se trata da criação de uma nova área, mas da otimização de áreas já existentes como na reforma de imóvel, quando paredes são derrubadas para garantir melhor circulação entre diferentes cômodos.

Há, ainda, mais tendências antifraude. Uma das mais promissoras é a GenAI, capaz de garantir rapidez não apenas na identificação de golpes como também no atendimento aos consumidores fraudados via call center ou chatbot e na elaboração de relatórios. E as redes colaborativas, em que empresas dividem experiências com suas concorrentes 56% das companhias de serviços já estão alavancando essas redes, mas ainda existe espaço para interação entre os diferentes setores.

O Brasil em ação

Práticas de mitigação a ameaças serão cada vez mais disseminadas a partir de iniciativas, como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), que entrou em vigor em 2020, e outras diretrizes específicas em diferentes setores.

Apesar dos esforços, num cenário em que a evolução das fraudes vem em escala oceânica, já não é mais uma questão de “se”, mas de “quando” uma organização será alvo de ameaças. E só uma estratégia avançada antifraude permitirá às empresas estar dois passos à frente dos criminosos.

*Elias Goraieb é sócio sênior da McKinsey em São Paulo e líder das práticas de risco estratégico e advanced analytics & data na América Latina.

*Roberto Marchi é sócio sênior da McKinsey em São Paulo e co-líder da prática de serviços financeiros na América Latina.

*Patrick Rinski é sócio da McKinsey em São Paulo e líder da prática de cibersegurança e riscos não financeiros na América Latina e da prática de seguros no Brasil.

Entre em contato: on_business_by_mckinsey@mckinsey.com

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