O Bradesco está começando a colher os frutos de uma reorganização completa que fez em sua área de alta renda — e está pisando no acelerador para ganhar share num mercado cada vez mais competitivo.

Em janeiro, o banco criou uma vertical de ‘wealth management’ reunindo o Bradesco Prime e o Bradesco Global Private Bank, além da Ágora, sua plataforma de investimentos, a Bradesco Asset Management e também o Bradesco Bank, sediado em Miami.

O Prime — clientes com mais de R$ 150 mil investidos ou salário de R$ 15 mil — e o Global Private Bank — clientes com mais de R$ 10 milhões em liquidez — vem crescendo a taxas acima de dois dígitos este ano.

No Private, o banco já chegou a um market share de 22% e pretende bater em 30% já no curto prazo.

Guilherme Leal, o diretor-executivo do banco responsável pelo ‘wealth’, disse que a ideia é crescer tanto de forma orgânica, com a captura de novos clientes e de um ‘share of wallet’ maior dos clientes atuais, quanto de forma inorgânica, com a aquisição de outras instituições do segmento.

O Bradesco já usou essa estratégia antes para crescer no private banking. No ano passado, o banco absorveu a operação de private do BNP Paribas, que decidiu deixar de operar no País. Em 2020, já havia feito o mesmo movimento com o JP Morgan.

O Bradesco atende mais de 9 mil famílias no Private com soluções de gestão patrimonial, tributárias e sucessórias, com o foco na perpetuação do patrimônio. “Um diferencial nosso é que temos um dos maiores quadros de private banking do mercado: são mais de 500 colaboradores,” disse Leal.

Outra frente de crescimento do Bradesco Global Private são os investimentos desses clientes no exterior, feitos por meio do Bradesco Bank e Bradesco Europa.

O share do Bradesco entre brasileiros que investem no exterior ainda tem muito oportunidade de crescimento diante de um mercado estimado de US$ 300 bilhões. Mas a ambição é grande: o objetivo de médio prazo é chegar a uma fatia de mercado entre 10% a 15%.

No Prime — onde o Bradesco tem mais de 1,5 milhão de clientes — o objetivo é ter “mais principalidade do cliente,” disse Leal.

Isso significa ser o principal banco do cliente. Para isso, o banco está investindo pesado em prestar uma melhor consultoria e melhorar a experiência desses clientes — dois fatores “essenciais para convencer o cliente a alocar a maior parte do investimento dele com a gente,” disse o executivo.

Uma das apostas do Bradesco nesta frente são os especialistas de investimentos, um time de 1.400 profissionais que atuam junto com o gerente da conta para oferecer as opções de investimento mais adequadas para o cliente. Até o final do ano, o Bradesco vai ampliar esse número para 2.000.

Esses profissionais — em parte contratados de fora, em parte aproveitados do quadro do próprio Bradesco — passam por um treinamento intensivo antes de começar a atuar.

“Eles saem extremamente preparados. É um treinamento que tem virado referência no mercado,” disse Leal. Todos os especialistas do Bradesco precisam ter, no mínimo, a certificação CEA, da Anbima, mas muitos acabam tirando outras certificações, como a CFP e a CGA.

Outra estratégia é ampliar a presença da Ágora no mercado. A casa de investimentos do Bradesco possui atualmente R$ 83 bilhões em ativos sob custódia e cerca de 1 milhão de clientes, na maioria correntistas do próprio Bradesco.

“Existe muito espaço para crescer na base de clientes do ecossistema do Bradesco e um espaço maior ainda quando analisamos o mercado como um todo. Os avanços conquistados em tecnologia, aliados a curadoria na seleção de mais de 1400 produtos de investimento de 130 instituições, e sobretudo na assessoria com proximidade e qualidade, nos colocam em posição privilegiada para aumentar nossa participação em clientes que fazem seus investimentos em outros bancos ou plataformas digitais,” disse Leal.

O executivo destaca que pretende ampliar as parcerias com escritórios de agentes autônomos e que hoje possui presença com 53 assessores distribuídos em 15 escritórios credenciados. Também há oportunidades de crescimento da Ágora de forma não-orgânica, e diz avaliar a expansão por meio de aquisições ou associações.

Outra vertical que faz parte do ecossistema do wealth é a Bradesco Asset, que vem tendo um protagonismo muito grande em 2023. Com captação liquida positiva no ano de quase R$ 7 bi e crescendo mais do que a indústria e os principais players, a gestora do Bradesco, que sempre foi uma das maiores do Brasil, já soma mais de R$ 627 bilhões em ativos, com crescimento de mais de 10% do seu patrimônio sobre gestão em 2023.

“Somos diferenciados em crédito, na solidez de fazer parte de um grande banco e com performance destacada. O ecossistema de investimentos passa por um momento de transformação o que pode gerar oportunidades para ampliarmos nosso posicionamento. Estamos atentos a tudo, principalmente no investimento em inovação, que aliado a uma ótima governança e um histórico de consistente de resultados, nos permitirá sermos cada vez mais relevantes aos nossos clientes.”

Leal ressaltou que o Bradesco é um banco de relacionamento, que busca estar muito próximo dos seus clientes, levando as melhores soluções de acordo com o perfil e momento do ciclo de vida de cada um.

Para atender cada vez melhor os clientes de alta renda, Leal comenta que continuará investindo forte no ‘wealth” porque ele é “uma fortaleza” e um segmento “muito estratégico” para o banco.

“É nesse mundo de alta renda onde você tem o maior retorno sobre o capital, dado a baixa alocação de capital, e permite termos a centralidade do relacionamento, além de capturar as muitas sinergias de negócios com o banco de atacado, como por exemplo a participação e viabilidade de ofertas públicas dos clientes do banco,” completa.

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