O maior fundo de previdência do País já está sob o comando do sindicalista João Luiz Fukunaga. A nomeação está sendo criticada — até entre funcionários de carreira do próprio BB e da Previ — pela falta de experiência de Fukunaga, cujo mandato vai até maio de 2026.
Em jogo: a gestão profissional de um patrimônio de R$ 250 bilhões, um dinheiro que pertence a quase 200 mil participantes. Entre as principais posições da carteira de investimentos da Previ estão algumas das maiores empresas do País, como Vale, Neoenergia, Petrobras, Ambev e BRF.
Formado em história, Fukunaga é funcionário do BB desde 2008 com o cargo de escriturário – um cargo que serve como porta de entrada para muitas pessoas fazerem carreira na instituição. Fukunaga, entretanto, optou por fazer carreira no sindicalismo: desde 2012, vinha ocupando posições na diretoria e cargos de chefia no Sindicato dos Bancários de São Paulo.
A nomeação de Fukunaga não foi bem-recebida entre antigos diretores da Previ e do BB, de acordo com pessoas próximas a gestões anteriores. O receio é que o fundo sofra ingerência política e seja usado para impulsionar investimentos, especialmente na infraestrutura.
“O indicado, salvo conexões políticas, não detém experiência nem conhecimento para a função,” escreveu no LinkedIn o executivo Nélio Lima, que foi diretor de participações da Previ e fez parte do conselho da instituição. Foi também diretor-executivo da BB Asset Management e hoje tem assento no conselho da Norte Energia.
De acordo com Lima, o risco é que o fundo de pensão seja “gentilmente convidado” pelo governo a “cooperar” com os investimentos em áreas como a infraestrutura. “Já vimos isso no passado, e alguns prejuízos por gestão inadequada foram transferidos para os participantes.”
Em seu currículo, o novo presidente da Previ não lista nenhuma experiência com o universo das finanças. Mestre em história social pela PUC de São Paulo, atuou principalmente com os temas “catequese, representação, memória, conquista espiritual, Mesoamérica, colônia, concepções de história e cosmogonia das elites indígenas em fontes coloniais,” de acordo com informações da plataforma Lattes.
Concluiu o mestrado em 2008, mesmo ano em que ingressou no BB como escriturário. Nas competências relacionadas em seu LinkedIn estão “capacidade de organização” e “acompanhamento (follow-up)”. Mais uma vez, nada específico em relação a conhecimentos técnicos sobre gestão de recursos financeiros.
Pouco antes de ser indicado ao novo cargo, Fukunaga fazia postagens no Twitter ecoando as críticas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à atuação do Banco Central – pelo menos é isso o que mostram imagens capturadas antes de ele apagar seu perfil na rede social.
“Picareta: Campos Neto foi indicado por Bolsonaro para presidir o BC. Até agora não foi capaz de colocar a inflação dentro da meta, mesmo com juros altos,” afirma ele em uma postagem com a data de 14 de fevereiro. “E continua insistindo em uma estratégia que não deu certo, travando o desenvolvimento econômico e social do país,” completou, com a hashtag #JurosBaixosJá.
Em declarações divulgadas pelo Sindicato dos Bancários, Fukunaga disse que tem uma “extensa trajetória de luta em defesa dos funcionários do Banco do Brasil, dos associados da Previ e dos trabalhadores” e que “a defesa dos direitos dos bancários e seus fundos de pensão são prioritários e a luta tem sido constante nos últimos anos”.
Fukunaga vai substituir Daniel Stieler, que vinha ocupando a presidência da Previ desde junho de 2021. Seu mandato deveria se encerrar apenas no próximo ano.
Stieler, que vai se aposentar, é funcionário do BB desde os anos 1980. Formado em contabilidade e com pós em administração financeira e auditoria, passou por cargos de gerência interna e diretoria. Foi diretor-presidente do fundo de pensão da Nossa Caixa.
A respeito das outras diretorias da Previ, não houve nenhuma alteração anunciada. Mas segundo fontes ligadas ao fundo, é altamente provável que o novo presidente traga pessoas de sua confiança.