As sinalizações do novo Governo no campo econômico têm criado um dilema difícil de resolver.
Como fazer um ajuste de 4 pontos do PIB (o necessário para controlar a trajetória da dívida) sem aumentar carga tributária e sem nenhum plano de mudança de gasto estrutural?
Para Daniel Leichsenring, da Verde Asset, “não existe ‘matemágica’.”
“A única mágica possível que compatibiliza isso tudo é a inflação, que tem poder de extrair dinheiro das pessoas e financiar o governo,” disse ele durante o Latin America Investment Conference, do Credit Suisse.
“Ou vamos aumentar impostos, ou vamos reduzir gastos, ou a inflação vai ter que vir. E o problema da inflação é que ela só resolve as coisas com doses cavalares de aceleração.”
Daniel lembrou que a última “matemágica” que o Brasil tentou fazer foi durante o Governo Dilma, e ela resultou na maior recessão da história.
“A chance de prosperarmos nesse caminho é zero,” disse. “Mas eu acho que em algum momento vai ter uma sensibilidade de que precisamos gastar menos ou aumentar impostos.”
Outro risco, segundo Daniel, é que o Brasil já perdeu a âncora fiscal e está discutindo acabar com a última âncora que resta, a monetária.
Para ele, aumentar a meta de inflação sinalizaria claramente à sociedade que o Governo quer mais inflação para resolver o problema fiscal.
“Se formos por esse caminho vamos passar para uma crise muito severa de maneira muito rápida,” disse.
O economista disse que tem esperança de que esse tipo de erro “monstruoso” seja evitado, dado o tamanho das consequências.
“Mexer na âncora monetária é muito grave. Isso foi uma das coisas que fez a situação da Argentina explodir,” disse.
Daniel notou também que o comportamento do governo vai contra o padrão histórico. Em geral, os governos fazem os ajustes necessários no início do mandato e perto do ano eleitoral começam a gastar mais. “A gente está gastando mais no começo, e quando vier o ano eleitoral acho difícil cortar.”
Apesar dos riscos altos, ele disse ter esperança de que o Presidente Lula dê alguns sinais positivos nos próximos meses, bancando algumas decisões “melhores e mais racionais.”