Os bancos de investimento operam num setor tradicional, que tem um mercado endereçável significativo e onde as coisas são feitas mais ou menos da mesma forma há décadas.
Para o ex-CFO da Movile, Arthur O’Keefe, este é um terreno fértil para a ‘disrupção.’
“É tudo analógico!” Arthur disse ao Brazil Journal. “Desde a captação do cliente e a construção do deck até o contato com os investidores, não tem tecnologia nenhuma.”
Com esse diagnóstico, Arthur se juntou a Felipe Moraes, um ex-managing partner da Innova Capital, para fundar a Bamboo, uma startup que vai disputar um naco do mercado de capitais com os bancos.
“Não estamos atacando o negócio deles, estamos atacando o mercado que não está sendo servido por eles,” disse Felipe. “Se incluirmos mais empresas nesse mercado e dermos acesso aos investidores estrangeiros já vamos ter um potencial enorme.”
Para dar a largada, a Bamboo acaba de levantar uma rodada de seed money liderada pela Global Founders Capital. A captação, de US$ 4 milhões, também teve a participação da Atman Capital, da Latitud, e de investidores-anjo como Marcelo Martins, da Cosan.
Num primeiro momento, a startup está direcionando seus esforços para o debt capital market (DCM) — que faz a estruturação e a distribuição de títulos de dívida para empresas.
Além de conectar emissores a investidores, a plataforma da Bamboo também disponibiliza dados sobre o emissor, permitindo que os investidores monitorem as empresas.
A startup – que está finalizando sua primeira emissão, uma debênture para uma companhia de geração solar distribuída – atua em todo o processo, da estruturação e emissão da dívida até a distribuição e o monitoramento do ativo, remunerando-se com fees.
“Nesse caso, fizemos a dívida com base nas instalações dos painéis solares nas residências. Então o investidor vai poder acompanhar na nossa plataforma as instalações da empresa e a performance desses painéis,” disse Arthur. “Se houver algum desvio do que foi prometido na oferta, o investidor vai poder acionar a empresa para tentar solucionar o problema.”
Segundo ele, a Bamboo já tem outros 11 emissores no pipeline. O foco da startup são companhias de middle market, que precisam levantar entre R$ 10 milhões e R$ 100 milhões e que, idealmente, sejam data-centric.
“Essa é uma faixa que não está bem servida pelo mercado,” disse Felipe. “Os bancos não atendem porque são tíquetes muito pequenos para o trabalho que eles vão ter.”
Felipe diz que a parte de monitoramento dos ativos já seria um produto por si só.
“Ninguém faz isso. Tem empresas que têm tantos dados que não dá para colocar no Excel. Essa capacidade de fazermos a engenharia de dados e transformar os dados dessas empresas em informações que ajudem o investidor a tomar uma decisão é um diferencial é tanto,” disse ele.
A Bamboo pode fazer todas as etapas das transações, ou participar em apenas parte delas.
“Uma transação estruturada por outro banco pode ser distribuída na nossa plataforma,” disse Arthur. “Para termos acesso aos dados temos que ser envolvidos na emissão, pelo menos, mas não temos necessariamente que fazer a estruturação.”
Depois de começar no mercado de dívida, a ideia da Bamboo é gradualmente expandir para outros ativos conforme a startup for ganhando a confiança de investidores e emissores.