A operação da Lojas Renner voltou a rodar bem nos últimos trimestres — com as vendas subindo e as margens retornando gradativamente ao nível pré-covid.
Mas um ponto de interrogação ainda perturba parte do mercado: a performance da Realize, a financeira do grupo.
Os questionamentos sobre a Realize ganharam força semana passada depois que o Itaú BBA projetou uma piora na carteira de crédito da Renner, que segundo o banco teria que aumentar suas provisões de forma significativa nos próximos trimestres para algo perto de 120% do crédito não-performado acima de 90 dias. Hoje essa cobertura está em 98%.
Para pacificar a questão, o CFO da Renner, Daniel Martins, e o diretor de crédito da Realize, Carlos Roberto Medina, fizeram uma reunião com o buyside hoje no BTG.
Segundo gestores presentes, a empresa passou boa parte do tempo explicando as tecnicalidades do modelo de provisão da carteira de crédito.
O bottom line: segundo o CFO, a Renner está com um nível de provisão adequado, seus modelos são robustos (foram construídos junto com uma consultoria Big Four), e a qualidade do crédito está melhorando nas novas safras.
“A impressão que eu tive é que eles fizeram a reunião porque isso está gerando um ruído muito grande e desproporcional ao tamanho que a Realize tem na operação, que é só de uns 10%-15% do EBITDA,” disse um gestor que participou da reunião.
No relatório, o Itaú chamou de um “sinal amarelo” o fato da Renner estar expandindo seu portfólio de crédito (a carteira quase dobrou desde 2019) ao mesmo tempo que o nível de cobertura está caindo.
“Eles explicaram que o fato da cobertura acima de 90 dias ter baixado não quer dizer que tem um risco maior. Para eles, o nível de cobertura está adequado e em linha com o que mostra o modelo,” disse um gestor presente.
O CFO também disse que, apesar da cobertura ‘over 90’ ter baixado, a cobertura da carteira total de crédito aumentou, saindo de 13% para 15% — acima da média histórica de 12%.
Já a cobertura da carteira de atrasados ficou estável, em 66%, em linha com a média histórica.
O executivo também notou que a Renner faz uma ‘baixa’ de todos os créditos não pagos depois de 360 dias, o que diminui o risco da carteira — alguns varejistas carregam esses créditos por anos — e disse que a inadimplência ‘over 90’ da Realize deve desacelerar no terceiro tri e estabilizar no quarto tri.
O CFO endereçou ainda o crescimento da carteira de crédito, que dobrou desde 2019, apesar do número de clientes ter crescido apenas 9% no período. Isso aconteceu, segundo ele, porque a Renner migrou seu modelo de cartão de crédito do private label (que só pode ser usado nas lojas da Renner) para o cobranded (que pode ser usado para tudo).
Com isso, a Renner teve que aumentar o limite dos clientes, o que fez a carteira dobrar. O objetivo dessa medida foi tornar o cartão da loja mais atrativo num cenário de alta competição.
Além do crédito, a Renner passou parte do tempo falando de suas perspectivas de crescimento — outro ponto questionado pelo Itaú, que chamou a história de crescimento orgânico da empresa de “menos atraente que no passado.”
Na reunião, o CFO disse que a companhia planeja abrir pelo menos mais 170 lojas da marca Renner nos próximos anos, a maior parte lojas de rua. A empresa já mapeou 130 cidades que ainda não têm uma Renner e que teriam espaço para isso.
Ele também disse que a companhia tem condições de abrir mais “umas 100 lojas da Youcom.”
A Youcom já fatura R$ 400 milhões por ano. Em outras reuniões com investidores, a Renner disse que vê potencial para o negócio chegar numa receita de R$ 1 bi a R$ 1,5 bi em cinco anos.