Muitas biotechs têm estudado o uso de exames complexos, como os de genômica, para a identificação de cânceres em estágios iniciais – com resultados promissores.
Mas todas elas têm um problema em comum: esses exames são caríssimos, tornando o método inacessível para boa parte da população.
A Huna, uma startup brasileira de inteligência artificial cujos colaboradores trabalham remotamente, está apostando numa abordagem diferente: usar dados de exames de rotina – como o hemograma e outros marcadores sanguíneos – para chegar no mesmo resultado.
“Olhados de forma individualizada, esses exames têm um identificador muito baixo para qualquer diagnóstico [de câncer], mas quando analisados em conjunto, combinando todos esses marcadores e usando machine learning, a visibilidade é muito boa,” disse Vinícius Ribeiro, o cofundador da startup. “Em doenças complexas e multifatoriais, é muito improvável que só um marcador varie.”
A Huna nasceu há poucos meses de um spinoff da Kunumi, a empresa de inteligência artificial fundada por Nivio Ziviani, o professor da UFMG que é uma referência no assunto.
No spinoff, a Kunumi ficou com uma participação minoritária pequena na startup, que acaba de levantar capital com fundos para financiar seus esforços de P&D.
A Huna levantou perto de US$ 1 milhão numa rodada liderada pela Big Bets e que contou também com a Kortex, o corporate venture capital do Fleury e do Sabin; e a Niu Ventures, a gestora de Ronaldo Barreto, Reinaldo Normand e Paul Bragiel.
A Huna está começando seus estudos pelo câncer de mama, uma doença que fala ao coração de uma das fundadoras, Daniella Castro. No ano passado, a empreendedora viu uma amiga próxima sofrer com uma variação muito agressiva desse câncer, descoberto em estágio avançado.
“Aquilo me impactou muito! Quando fui pesquisar a fundo, vi que quando identificado na fase inicial a chance de cura desse câncer é altíssima,” disse Daniella, a CTO da Huna. “Mas no Brasil só 20% das mulheres conseguem fazer a mamografia.”
Por enquanto, a Huna está em fase de desenvolvimento da tecnologia, mas os números preliminares são animadores.
Há um mês, a startup fez um estudo com cerca de 80 pacientes (uma amostragem considerada bem pequena na indústria) e sua tecnologia de inteligência artificial atingiu uma acurácia de 90% na identificação do câncer.
Daqui a algumas semanas, ela deve receber uma amostra bem maior do Fleury (com dados de mais de 1.000 pacientes) e fazer um novo estudo.
“O foco dessa rodada é fazer pesquisa e mostrar que a tecnologia funciona,” disse Marco Kohara, o terceiro fundador. “Estamos nos rodeando de estudos científicos com resultados robustos e trazendo advisers médicos para romper a barreira que ainda existe em relação a IA na medicina.”
Esse não é o primeiro estudo da Huna. Durante a covid – e com a empresa ainda dentro da Kunumi – ela usou sua tecnologia de IA para fazer a detecção da covid usando o hemograma. (A covid é mais fácil de diagnosticar do que o câncer usando apenas o hemograma.)
A Huna começou o estudo da covid usando dados públicos da Fapesp, mas depois teve acesso a dados do Fleury. O resultado do estudo foi publicado na Nature, uma das publicações científicas mais conceituadas do mundo.