“O Fed está blefando e não está controlando a inflação,” disse David Einhorn, o fundador do hedge fund Green Light Capital. Para ele, o banco central americano demorou a se mexer e agora age como alguém que “usa uma colher de pegar sorvete para retirar a montanha de neve que está em seu caminho.” 

O gestor fez os comentários ontem durante a Sohn Investment Conference, a tradicional conferência de executivos de hedge funds. Einhorn, que fez fama e fortuna ao apostar contra a Lehman Brothers em 2008, destilava pessimismo. 

Disse que a inflação será “provavelmente muito mais persistente” do que o previsto e, nesse cenário, o ouro será o último refúgio de proteção de capital contra a alta nos preços. 

“A questão é saber se haverá ouro suficiente para dar lastro às reservas monetárias,” disse. “A resposta será uma alta no preço do ouro.”

O Fed dispõe de poder de fogo limitado por causa do elevado déficit público americano, argumentou Einhorn. Quando os juros sobem, a dívida pública dos Estados Unidos aumenta, o que agrava a fragilidade fiscal. 

O Fed “simplesmente não pode fazer muito mais porque ele precisa garantir que o Tesouro possa se financiar. Quando o Fed tiver que escolher entre combater a inflação e apoiar o Tesouro, acho que tem que escolher o Tesouro,” disse Einhorn. “Nesse momento, será melhor ter um pouco de ouro. Foi isso que meu avô Ben me ensinou.” 

Depois de anos amargando um desempenho sem muito brilho, em 2022 o fundo de Einhorn tem se beneficiado de suas apostas na queda de ações e na alta do ouro. O Green Light tem um retorno de 21% desde janeiro. 

Os números da inflação americana divulgados hoje sustentam a visão de Einhorn. Os reajustes nos preços ganharam força em maio, com alta de 1%. Em doze meses, a alta acumulada bateu 8,6%, o maior índice desde 1981. 

O salto maior do que o previsto derrubou as ações em todo o mundo, enquanto os juros dos títulos públicos subiram.

O rendimento dos Treasuries de dois anos atingiu 3% – a primeira vez desde 2008. No Brasil, o Ibovespa também abriu em forte queda, e o dólar voltou para perto de R$ 5.

“Todo o trabalho para conter a inflação terá que vir do lado da demanda”, disse Einhorn. “Como resultado, os preços terão que subir muito para dissuadir o consumo substancial, e como resultado a inflação deve ser muito mais persistente.”

O Fed se equilibra entre o temor de jogar o país numa recessão e o dever de controlar a inflação. Em sua reunião da próxima semana, deverá subir a taxa de referência em 0,5 ponto percentual. Hoje ela  está entre 0,75% e 1%.