Com dois edifícios incrustados no centro de Belo Horizonte, o complexo JK é um marco da capital mineira, com projeto de Oscar Niemeyer e um perfil demográfico e cultural que lembra o Copan de São Paulo.
Como em todo edifício de uma grande metrópole, dentro do JK convivem a alegria e a depressão, o passado e o futuro — e, nestes tempos de crise, uma angústia coletiva.
Mas desde o último sábado, um dos 5 mil moradores dos 36 andares do prédio resolveu amenizar a aflição dos vizinhos.
De uma janela discreta, em algum andar alto, alguém está projetando frases inspiradoras de conforto e esperança, colocando um sorriso no rosto de quem não pode sair de casa.
Projetadas no topo da torre em frente, as frases trazem mensagens como “Ninguém está sozinho”, “Solidários venceremos”, e “Fique em casa, fique bem”.
Na segunda noite de projeção, o morador anônimo agradeceu aos profissionais da saúde, entregadores e imprensa; e, como estamos em Minas, citou Guimarães Rosa: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” (OK, Rosa não é só mineiro, é universal.)
As frases ganharam até uma conta no Instagram (@vivajk), que tem recebido afagos e agradecimentos.
Mas apesar de todo o sucesso, o frasista da esperança quer se manter anônimo.
Moradores do JK que conhecem sua identidade disseram ao Brazil Journal que ele teme a síndica do edifício, a advogada Maria Lima das Graças, que já foi descrita na imprensa local como a ‘Dama de Ferro do JK’.
Trinta anos atrás, o JK era um antro de drogas, prostituição e degradação.
Se hoje o prédio está se ‘gentrificando’, atraindo investidores para seus apartamentos de 1, 2, 3 e 4 quartos, muito do crédito pertence à Dra. Maria das Graças, este misto de Thatcher e Rudolph Giuliani (before going crazy).
Mas 35 anos no poder, diversos processos contra moradores e uma personalidade descrita por muitos como “difícil” não fizeram da síndica a figura mais popular do prédio.
“Ela tornou o prédio habitável, mas processa todo mundo que faz algo que ela não gosta, e ninguém consegue tirar ela do poder,” disse um dos moradores.
Recentemente, o prédio sofreu uma perda afetiva: o relógio do Itaú que há décadas decorava o topo da torre B (como seu equivalente na Avenida Paulista) foi removido. Mas agora, com as frases, o JK ganhou outra referência visual.
“Essas projeções também são importantes para valorizar o prédio,” disse outro morador. “BH tinha que abraçar o JK igual São Paulo abraça o Copan. Ainda tem muitas pessoas que não querem morar aqui porque ficou esse estigma de um lugar de drogas e prostituição.”
Se, como muitos dizem, essa quarentena vai mudar o mundo, quem sabe as frases do JK farão parte dessa mudança, comovendo até sua ‘Dama de Ferro’.