Com o mundo levando o ESG cada vez mais a sério, a remuneração dos executivos — parte do G, de governança — está ficando sob a lupa do mercado.
Com isso em mente, o JP Morgan fez uma análise de quanto recebem executivos e conselheiros de 14 empresas do setor financeiro brasileiro — de bancões a fintechs, passando pela B3.
A análise englobou o ano de 2019 (o último divulgado) e a média dos últimos três anos.
(A XP ficou fora da análise, aparentemente porque só foi listada há um ano e seus números só ficaram públicos em 2020).
As principais conclusões do relatório:
B3, a mais generosa
A B3 foi a empresa que melhor remunerou o seu management.
A companhia ficou em primeiro lugar no ranking por três anos consecutivos: 2017, 2018 e 2019. Para se ter uma ideia, só em 2019 ela pagou R$ 116 milhões para seis executivos, uma remuneração média de R$ 19 milhões por pessoa.
O CEO mais caro
No ranking do maior salário individual o Itaú ficou em primeiro lugar, com uma remuneração de R$ 52 milhões/ano para seu CEO. Mas a B3 ficou pau a pau: o CEO Gilson Finkelsztain levou para casa R$ 51 milhões em 2019.
No Bradesco, muitos executivos…
O Bradesco é a empresa com o maior número de executivos sêniores: eram 94 ao final de 2019, em comparação com 21 no Itaú e 41 no Santander Brasil. O resultado: o banco teve o maior custo absoluto com executivos dentre todas as instituições analisadas, desembolsando R$ 784 mi em remuneração no período. (O JP Morgan nota que mudanças recentes no Bradesco devem ter reduzido significativamente este número).
… mas o conselho ganha mais
O Bradesco também é a única empresa onde a remuneração média do conselho é maior que a do management. O Bradesco pagou R$ 211 milhões em 2019 a seus oito conselheiros — uma média de R$ 27 milhões por membro, três vezes maior que a média dos executivos (R$ 8 milhões).
Público vs. privado
Nas instituições públicas — Banco do Brasil, BB Seguridade e Banrisul — a remuneração média de seus executivos é consideravelmente menor que a dos bancos privados, em grande parte por limitações impostas por lei.
A remuneração média varia de R$ 1 milhão a R$ 1,6 milhão nas três instituições. No BB, o executivo mais bem remunerado levou para casa R$ 1,8 milhão; no Banrisul, R$ 1,1 milhão. (Ambos os dados são de 2019)
Mas quando se trata do salário dos funcionários…. a história é bem diferente: os bancos públicos pagaram uma remuneração média por funcionário maior que a dos bancos privados.
Eficiência
O JP Morgan mediu também a ‘eficiência’ dessas remunerações, comparando o valor pago aos executivos com quanto eles geraram de valor para seus acionistas no período por meio da valorização da companhia.
Nessa métrica, a B3 foi mais eficiente que os bancões: enquanto a remuneração paga por Bradesco e Itaú representou 3,1% e 1,4% da valorização das ações de 2017 a 2019, a da B3 representou 1%. O Inter teve um índice de 0,5% e o Banco Pan de 0,6%.
(No cômputo geral, as empresas mais eficientes nesta métrica são as instituições públicas, mas porque suas remunerações são muito baixas).
O patinho feio foi a Cielo, que apresentou um índice de -0,3%. A empresa pagou R$ 136 milhões de remuneração total a seus executivos no período, enquanto destruía R$ 41 bilhão em valor de mercado.
Bancos de dono pagam menos
Outra conclusão: os executivos de bancos de dono — como BTG, Inter e BMG — têm a remuneração mais baixa do sistema financeiro, excetuando os bancos públicos.
Uma possível explicação: como tem ownership relevante em seus bancos, estes sócios-executivos são remunerados também por meio dos dividendos.