Em seu primeiro trimestre como empresa listada, a Netshoes colocou seu EBITDA no azul e reduziu seu prejuizo quase pela metade — mas continou queimando caixa.
Mesmo antes do resultado ser divulgado ontem à noite, a ação disparou na Bolsa de Nova York e voltou (finalmente) ao preço do IPO, deixando para trás um dos piores históricos de negociação de uma empresa brasileira na história recente.
No IPO, em meados de abril, a Netshoes sua ação numa faixa entre US$18 e US$ 20, precificou no piso daquele intervalo, e acabou vendo o papel cair 10% no primeiro dia, e engrenou uma tendência de queda dali em diante. Depois de bater na mínima de US$ 12,5 em 24 de abril, a ação começou a reagir. Ontem, antes do resultado ser publicado, o papel disparou 9,5% e fechou a US$ 18,35, sua máxima histórica.
De janeiro a março, o faturamento líquido da Netshoes subiu quase 14% para R$ 396 milhões, puxado principalmente pela operação brasileira, que cresceu 17% e respondeu por R$ 355 milhões do total. O faturamento internacional caiu 8,6%, impactado pela desvalorização do peso argentino e do peso mexicano. Desconsiderada a desvalorização destas moedas, as vendas internacionais teriam crescido 23,8%.
A Netshoes teve margem bruta de 30,2% no trimestre.
Claramente disposto a entregar um bom primeiro trimeste depois do IPO, o fundador Marcio Kumruian conseguiu apertar o cinto: as despesas administrativas e de vendas representaram 25,4% do faturamento líquido, quatro pontos percentuais a menos que os 29,4% do ano anterior.
Tudo isso (e mais alguns fatores não recorrentes) ajudou a empresa a gerar R$ 3,1 milhões em EBITDA, comparado a um EBITDA negativo de R$ 42,6 milhões no mesmo período do ano anterior.
A margem EBITDA de 0,8% representou uma melhora de 13 pontos percentuais, mas — sem a ajuda de itens extraordinários como créditos fiscais e a redução de gastos prospectivos com plano de opções da empresa — o EBITDA teria sido negativo em quase R$ 20 milhões. Isto significaria uma margem EBITDA negativa de 5%, mas, ainda assim, uma melhora de 7,2 pontos percentuais sobre o primeiro trimestre do ano anterior.
O EBITDA gerado no Brasil chegou a R$ 12,9 milhões (margem EBITDA de 3,6%), 13,1 pontos acima do ano anterior, enquanto o EBITDA internacional foi negativo em R$ 8,8 milhões (margem negativa de 21,5%).
O prejuizo líquido foi de R$ 37,7 milhões, comparado a um prejuízo de R$ 61,6 milhões um ano antes (margem negativa de 9,5% contra 17,7%, respectivamente).
A queima de caixa líquido chegou a R$ 78,5 milhões, mas a empresa notou no comunicado ao mercado que o primeiro trimestre é o mais fraco do ano, levando à queima de caixa mais severa do calendário fiscal.
O ‘gross merchandise value’ (a soma de todos os produtos transacionados pela companhia) subiu 25%, e o marketplace — negócio em que a empresa quase não utiliza capotal e age apenas como broker — passou a representar 5,3% do total, comparado a 1,7% no mesmo trimestre do ano antertior. A Netshoes tem agora 375 vendedores atuando em seu marketplace, 53 a mais do que no trimestre anterior.
Em seu vertical Zattini, a Netshoes disse que as vendas de roupas e cosméticos quase dobraram ano contra ano (alta de 98%), mantendo a Zattini como o maior portal do tipo no ecommerce brasileiro.
Num sinal de como o consumidor continua a migrar para a plataforma mobile, 39% das ordens da Netshoes foram feitas pelo celular, contra 27% no mesmo trimestre do ano anterior.
Para o JP Morgan, mesmo depois da alta d eontem a Netshoes negocia a 20% de desconto com relação a empresas comparáveis como B2W e JD.com. A Goldman tem preço-alvo de US$ 24,50; o Bradesco, de US$ 26. Os três bancos participaram do IPO.
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O livro Sem Limites – A História da Netshoes, de José Eduardo Costa, será lançado hoje, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, das 19 às 22 horas. O evento é aberto ao público. Toda história de empreendedorismo brasileira merece ser prestigiada.