A Loft, uma startup brasileira com menos de um ano de vida, acaba de ser avaliada em US$ 370 milhões (post money), numa rodada dominada por fundos americanos e executivos da indústria de tecnologia.
 
A aposta é ambiciosa:  injetar dinamismo e liquidez no mais estático dos mercados — o imobiliário — comprando, reformando e revendendo apartamentos numa plataforma que com o tempo vai agregar cada vez mais serviços e conveniência.
 
A empresa acaba de levantar US$ 70 milhões (R$ 250 milhões) numa Series B. 
 
Dois terços da rodada vem dos mesmos investidores que já haviam apostado na Loft em julho do ano passado, quando os fundadores levantaram US$ 18 milhões para começar o negócio.  
 
10627 1c88de18 a194 b79b 686b 94d24dfd9c01Os investidores daquela Series A foram: Andreessen Horowitz, em seu primeiro investimento no Brasil; a Thrive Capital (um VC de Nova York); a Monashees e o Canary – além de capital dos próprios fundadores.  Investidores pessoa física incluíram:  Max Levchin (PayPal), Eric Wu (fundador da OpenDoor), Joe Lonsdale (fundador da Palantir) e David Vélez (do Nubank).
 
Na Series B, concluída esta semana, novos investidores vieram a bordo: a Valor Capital (do ex-embaixador americano no Brasil, Cliff Sobel); a Fifth Wall (um fundo de Los Angeles especializado em disruption no mercado imobiliário) e o QED, do fundador do Capital One, Nigel Morris.  O QED tem um dos melhores históricos de investimento em fintechs do mundo; seu último fundo do QED retornou 10 vezes o investimento. No Brasil, o QED já é investidor do Nubank, Creditas e GuiaBolso.
 
Executivos como Hugo Barra (hoje no Facebook) e Mike Krieger (fundador do Instagram) também participaram da rodada.
 
A Loft tem sete sócios fundadores, com background em tecnologia, imóveis e finanças. Os dois maiores, Mate Pencz e Florian Hagenbuch, se conheceram quando faziam estágio na Goldman Sachs na Europa e já são amigos há 10 anos.  Depois da Goldman, Florian trabalhou num fundo de private equity e Mate, num hedge fund.  Mas queriam empreender.  Na época, o Brasil estava decolando. Voltaram para São Paulo e fundaram a Printi, uma gráfica online que hoje tem 550 funcionários e R$ 200 milhões de faturamento.  

Em 2014, quando venderam uma participação na Printi, os dois usaram a liquidez para investir em startups.  Botaram dinheiro na 99, na VivaReal, Quinto Andar e Gympass.  Mais tarde, consolidaram seus investimentos de VC no Canary, o fundo gerido por Marcos Toledo, ex-MSquare, e Julio Vasconcellos, o fundador do Peixe Urbano.
 
O marketplace da Loft funciona assim: proprietários e/ou corretores cadastram os imóveis, que entram num funil de análise e precificação. Depois do crivo inicial, uma equipe da Loft faz uma visita técnica ao imóvel. Se sair negócio, a Loft paga pelo imóvel à vista, dando liquidez imediata ao vendedor.

10626 aeb2d5e4 3cbd e1c6 4f06 f1151ac8f607O grande desafio é precificar bem.  “Somos um participante do mercado a preços justos, não um comprador da bacia das almas. Queremos ganhar no volume, e não necessariamente em cada deal,” Pencz, o co-CEO e fundador, disse ao Brazil Journal.

A Loft classifica os imóveis em cinco níveis na escala de “vai dar trabalho”.  Imóveis no nível #1 exigem apenas uma limpeza e pintura.  Imóveis no nível #5 exigem refazer tudo: derrubar paredes, trocar toda a parte elétrica e hidráulica, e instalar acabamentos de alto padrão.  Nos imóveis adquiridos até agora, o grau de complexidade médio foi de 3,5.  

“Fazemos a reforma para aumentar a liquidez e entregar o produto pronto,” diz Hagenbuch. “A grande demanda hoje é por apartamentos revitalizados, a preços justos e em bairros onde não há muita oferta.” 

Operando num país em que nem mesmo o imóvel novo é realmente “pronto” — a maioria é entregue no contrapiso — a Loft começou operando em bairros consolidados, onde o estoque de imóveis é antigo:  Jardim América, Jardim Paulista e Itaim Bibi.  Entre a compra e a venda, o giro médio dos imóveis tem sido de aproximadamente 3 meses, e a Loft projeta um VGV (valor geral de vendas) acima de R$ 2 bilhões para este ano.

A empresa pretende operar em mais sete bairros de São Paulo até o fim do ano (Vila Nova Conceição e Jardim Paulistano ainda nesse semestre) e chegar a Rio e Belo Horizonte entre o final do ano e o começo de 2020.