A 4intelligence — uma startup que automatiza a criação de modelos preditivos para empresas como Coca-Cola, Volvo e M Dias Branco — acaba de levantar R$ 10 milhões com o Inovabra Ventures, o fundo de corporate venture do Bradesco.
A captação é a primeira ‘tranche’ de uma rodada Series A que deve chegar a R$ 25 milhões e será concluída em setembro.
A startup pretende usar os recursos para aprimorar seu principal produto: uma plataforma chamada ‘4CastHub’, que ajuda empresas a criar modelos que preveem demanda e ajudam na gestão do estoque e na precificação de produtos.
Os fundadores são os sócios da consultoria de macroeconomia 4E, uma dissidência da Tendências.
A 4intelligence passou os últimos quatro anos trabalhando na construção de uma série de algoritmos de machine learning automáticos (conhecidos como ‘autoML’).
Na prática, os algoritmos permitem testar de maneira automatizada centenas de milhares de versões de um mesmo modelo preditivo.
“Fazemos várias parametrizações dos modelos, vários ajustes finos, e rodamos essas versões na nossa plataforma para descobrir qual é a melhor para cada tipo de uso,” Bruno Rezende, o CEO e cofundador, disse ao Brazil Journal. “Num modelo de previsão de vendas, por exemplo, vamos testar em média 150 mil modelos diferentes para cada SKU.”
Segundo ele, cada teste é feito em menos de 15 minutos na plataforma — mas o algoritmo precisa rodar constantemente.
Além de automatizar o processo, Bruno diz que o sistema aumenta a acurácia dos modelos em cerca de 20%, em comparação com outros modelos ‘tailormade’.
A Volvo, por exemplo, usa a 4intelligence para prever a demanda por seus veículos; a VLI, para prever volumes de grãos para serem transportados e preços de fretes.
Já a Hering está usando outra solução da startup — chamada ‘Geocast’ — para prever as vendas por região e com isso conseguir definir o melhor local para abrir suas novas lojas.
A Volvo diz que teve uma “melhora sensível nas projeções de vendas” com a 4intelligence, o que permitiu trabalhar com estoques mais ajustados e reduzir seu capital de giro, que é intrinsecamente alto na indústria.
“Saímos de um mundo em que um bom analista nosso ia testar 10 a 15 modelos por dia para uma realidade em que testamos milhões por dia,” diz Bruno.
Um dos grandes desafios da 4intelligence foi escalar um produto que se baseia essencialmente na customização — afinal, um algoritmo que prevê vendas num supermercado não tem nada a ver com um algoritmo que faz a previsão de vendas de uma empresa de autopeças, por exemplo.
“A grande disrupção que estamos trazendo é justamente essa: automatizar de cabo a rabo esse processo de personalização dos modelos,” diz o fundador.
Mas a startup não está ‘inventando a roda’.
Essencialmente, seu modelo de negócios é o mesmo criado em 2016 pela americana DataRobot, a primeira a desenvolver o conceito de ‘autoML’. A DataRobot já levantou quase US$ 1 bilhão desde sua fundação e foi avaliada em US$ 3 bi em sua última rodada.
O que impede então que outra startup crie algoritmos parecidos e entre nesse mercado?
Para Bruno, há uma barreira técnica e outra temporal.
“São múltiplas competências necessárias para desenvolver esse tipo de solução, que vão desde a ciência de dados até a estatística,” diz ele. “Além disso, para uma nova startup lançar uma solução como a nossa, ela levaria anos… e enquanto isso vamos ganhando market share.”
Parte dos R$ 10 milhões do InovaBra vão financiar o lançamento de uma plataforma de autosserviço. Hoje, a equipe da 4intelligence ainda precisa auxiliar todos os clientes na escolha dos dados que serão usados nos modelos e na integração com a plataforma.
A ideia é lançar uma plataforma onde os próprios clientes possam imputar os dados de forma intuitiva e parametrizar os modelos — simplificando drasticamente o processo, aumentando a margem e permitindo que ela comece a atender também médias empresas.
A 4intelligence teve uma receita de R$ 3,5 milhões ano passado. Sua previsão é mais do que quadruplicar esse faturamento em 2022, chegando a R$ 13,7 milhões.