Antonio Palocci passou o dia de ontem dizendo aos muitos interlocutores que o procuraram que a matéria do Valor — que dizia que Lula defende uma guinada na política econômica, com redução dos juros ‘na marra’ e substituição de Levy e Tombini — não deveria ser interpretada ao pé da letra.
Explicou que Lula falava para seu público interno, leia-se, o PT.
Para mostrar que a política acomoda discursos antagônicos para públicos distintos, relembrou o tempo em que ele, ministro, tomava medidas ortodoxas que eram criticadas publicamente por Lula, numa combinação prévia. Uma espécie de ‘good cop, bad cop‘ do Planalto.
Já era noite quando a executiva nacional do PT também botou seus panos quentes nos temores do mercado, publicando uma nota de apoio ao ajuste fiscal e defendendo, inclusive, a recriação da CPMF e os cortes no orçamento para 2016.
O PT avaliou como ‘positiva’ a proposta da nova contribuição, agora com destinação para a Previdência, mas quer incluir uma ‘faixa de isenção na CPMF, a ser analisada em conjunto com técnicos do governo’.
Mas, claro, não poderia faltar o veneno da mistificação: “A direita e os neoliberais consideram insuficiente o conjunto de medidas,” diz o PT na nota. “Assim entendem porque propõem revogar a lei do salário-mínimo, o fim do Fies, do Prouni, do Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Família, entre outros programas sociais criados e ampliados nos governos do PT.”
Como se sabe, o PT é um partido altruísta que só faz dar, dar e dar. E os tais ‘neoliberais’ — uns chatos — só pensam em como fazer a conta fechar.
Vacilante e machucada, a economia brasileira resistiu a mais um dia de discursos ambíguos e meias verdades.