Quando o resultado da 2ª Olimpíada Internacional de Economia foi anunciado, não teve jeito: a molecada foi para a frente da sala, desfraldou a bandeira verde e amarela e começou o coro: “O campeão voltoooooooouu, o campeão volto-oooooouuuuuuu”.
São Petersburgo nunca viu nada igual.
O Brasil ainda tem uma economia frágil e dependente de reformas, mas, talvez até por nossa história de tragédias, a nova geração de futuros economistas e engenheiros está ganhando prêmios ao redor do mundo.
A delegação brasileira levou o ouro numa competição que incluiu provas de gestão de portfólio, perguntas de macroeconomia e teoria dos jogos, além da análise da viabilidade de um business case elaborado pela McKinsey – no caso, a construção de um hyperloop na Rússia.
Os estudantes brasileiros ganharam de outras 27 delegações de 23 países, a maior parte da Ásia e países da antiga União Soviética. (Os chineses, claro, levaram as medalhas de prata e bronze.)
“A China veio pesado pra ganhar e conseguimos chegar em primeiro”, diz Raphael Zimmermann, o líder do time e um dos responsáveis por introduzir um capítulo da olimpíada de economia no Brasil.
“Queremos que esse prêmio sirva de inspiração e lembre que temos muito potencial pra fazer as coisas acontecerem no Brasil.”
A Olimpíada Internacional de Economia foi criada há dois anos pela Escola Superior de Economia da Rússia. Este ano, o capítulo brasileiro – Olimpíada Brasileira de Economia (Obecom) – atraiu 3.500 participantes.
Para se preparar para a disputa em São Petersburgo, os cinco vencedores da competição nacional e os dois líderes da delegação passaram por capacitação e treinamento com a Bain & Co.
Quando voltarem para o Brasil, o time já tem reunião marcada com Mateus Carneiro, head de RH do BTG Pactual e Felipe Regis, responsável pela área de atração do banco, que patrocinou a estadia da equipe na Rússia.
Entre uma etapa e outra de provas, os competidores tiveram palestras e conversas com o Nobel de Economia Eric Maskin, e mentorias com executivos da McKinsey.
Os integrantes da delegação brasileira são “ratos” de Olimpíada. Juntos, somam mais de 130 medalhas em competições nacionais e internacionais em áreas como matemática, física, informática, química, astronomia, robótica, empreendedorismo e história.
Um desses ratos é o pernambucano Victor Cortez, 18 anos e 34 medalhas no currículo, incluindo uma prata na International Young Physicists’ Tournament na China no ano passado (que venceu junto com seu colega de delegação na Rússia, Guilhermo Cutrim Costa).
“Participar de olimpíadas é uma motivação para o estudo e você aprende outras habilidades pra vida: viaja, conhece gente nova, faz network,” diz.
Victor estudou no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. A participação em olimpíadas não era muito estimulada na escola – só tinha uma professora que falava sobre isso. Mas ele sonhava em estudar fora e viu nas medalhas a chance de engrandecer o currículo.
Deu certo: seu desempenho em olimpíadas chamou a atenção do Colégio Ari de Sá de Fortaleza, que o convidou para cursar o terceiro ano do ensino médio com bolsa completa, incluindo moradia e ajuda de custo.
No Ari de Sá, teve ajuda para se inscrever em universidades no exterior. E foi aceito – também com bolsa – para o curso de Engenharia de Columbia, que começa a cursar a partir do mês que vem.
Para Ana Inoue, que cuida dos investimentos sociais em educação no Itaú BBA, a trajetória de Victor é emblemática das falhas do sistema de ensino público no Brasil.
“As olimpíadas são um grande incentivo para os estudos e um atalho possível de valorização para os bons alunos, já que o sistema não consegue identificar e aproveitar ao máximo esses talentos.”
Para ela, não faltam talentos no Brasil. “Nosso desempenho nessas olimpíadas mostra que temos muitos talentos. O que não conseguimos fazer é transformar a excelência em política pública, gerar escala e dar continuidade.”
No vídeo, a celebração da vitória: