No grande baralho do private equity, André Esteves recebeu várias mãos ruins.
A Sete Brasil virou um mico com o escândalo da Lava Jato, a Brasil Pharma sangrou caixa para integrar suas aquisições, e o Banco Pan está demorando para mostrar a que veio. Até o investimento do BTG na África em parceria com a Petrobras, que parecia um negócio da China, viu seu valor se esfarelar quando o petróleo caiu mais de 50%.
Mas este ano, Esteves tem um ás na mão: um lucro cavalar obtido com a negociação de contratos de energia.
Este lucro — estimado por fontes próximas ao banco em pelo menos 1 bilhão de reais — começou a aparecer no balanço do quarto trimestre do BTG e pode compensar parte dos reveses do banco no curto prazo.
Nos últimos dois anos, por meio da BTG Pactual Comercializadora de Energia, o BTG fez uma aposta grande em contratos de energia.
Desde a Medida Provisória 579 de setembro de 2012 — que se tornou a Lei 12.783 em janeiro de 2013, e pela qual o Governo forçou uma queda nas tarifas de energia como condição para a renovação de concessões de geração e transmissão — muitos analistas já previam que os preços iam subir, por um motivo simples. “O governo reduziu a tarifa num momento em que os reservatórios já estavam caindo e o País já estava ligando as térmicas, ou seja, já estava tendo que usar a energia mais cara disponível,” lembra um analista.
A aposta de que a energia ia subir não era contraintuitiva: como comprador, o BTG só precisava encontrar vendedores num mercado dominado por empresas do setor — principalmente estatais como Eletrobras e Chesf.
Para se ter uma ideia da magnitude da alta, a energia começou janeiro de 2014 em 250 reais por megawatt/hora e terminou em 485 reais, em média. Em fevereiro, bateu 822 reais.
O BTG se preparou para esta oportunidade. Em 2010, o banco comprou a Coomex, a maior comercializadora independente de energia do País, e hoje é o maior player financeiro tomando risco neste mercado. Sua mesa de trading de energia é comparável às das grandes empresas do setor. A mesa é parte da operação de commodities do banco, que reúne cerca de 400 pessoas em Londres, São Paulo e na Ásia.
Os resultados de commodities ajudaram o BTG nos últimos dois anos, diminuindo um pouco sua correlação com a enorme destruição de valor que machucou os ativos brasileiros.
Ao longo de 2014, o BTG comprou e vendeu contratos de energia, mas, na média do ano, ficou comprado em 228,5 ‘megawatts médios’ (uma unidade de produção energética). Essas operações renderam ao banco uma ‘liquidação financeira’ de 1,58 bilhão de reais na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) — isto é, este é o valor líquido que o banco recebeu por todas as suas negociações na câmara.
Para se chegar ao lucro do banco com estas operações, é preciso subtrair do número o custo de compra da energia e os impostos.
Fazendo esta conta, analistas que acompanham este mercado calculam que o BTG lucrou pelo menos 1 bilhão de reais com estas operações no ano passado.
Mas este número é apenas uma aproximação, porque os contratos no mercado livre são altamente customizados e particulares, ou seja, os preços não são públicos.
Trata-se de um mercado relativamente opaco. Ao contrário da Bovespa, onde se vê, a cada operação, as corretoras envolvidas na compra e na venda (assim como as cotações), no mercado de energia os preços são frequentemente combinados ao telefone e só são levados para registro na CCEE depois que comprador e vendedor chegaram a um acordo.