Uma proposta da MSCI de dar menos peso em seus índices a companhias com duas classes de ações pode afetar fluxos para diversas companhias brasileiras.
Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira, estrategistas do BTG Pactual, destacaram a relevância do assunto num relatório publicado hoje.
As mudanças propostas pela MSCI são particularmente importantes dado que, há pelo menos sete anos, a Bolsa brasileira foi sustentada em grande parte pelo investimento estrangeiro, enquanto os investidores domésticos reduziram dramaticamente suas posições.
“Os gringos seguem o MSCI e isto é a régua de todo o mercado,” diz um gestor em São Paulo.
No final de janeiro, a MSCI — cujos índices MSCI Emerging Markets e MSCI Brazil balizam bilhões de dólares em investimentos em Bolsa — convidou o mercado a comentar uma proposta que visa mudar o tratamento de empresas com ações sem direito a voto.
No ano passado, o MSCI havia proposto simplesmente excluir de seus índices as ações sem direito a voto, e na época, a maioria dos investidores respondeu favoravelmente.
A nova proposta, na opinião de Sequeira, é “mais equilibrada”.
Empresas com duas classes de ações (votantes e não votantes) continuarão a compor os índices, mas terão seu peso diminuído vis-à-vis empresas que têm apenas ações com direito a voto.
Se implementada, a proposta mudaria muita coisa no MSCI Brazil, reduzindo o peso das ações sem direito a voto, particularmente para pesos-pesados do índice como as PNs do Itaú Unibanco, Bradesco e Vivo, disseram os analistas do BTG.
A MSCI vai anunciar os resultados da consulta até o final de junho.
“Se [a MSCI] adotar a proposta, uma série de ‘medidas de implementação’ serão realizadas para evitar mudanças bruscas,” escreveram Sequeira e Teixeira.
A MSCI está propondo que os membros atuais do índice tenham um período de carência de três anos para ajustar suas respectivas estruturas societárias, migrando para ações com direito a voto. Para novos membros do índice, as mudanças seriam aplicadas a partir de agora.
No entanto, a MSCI está perguntando aos investidores se eles acham que o período de carência é apropriado para os membros atuais do índice, indicando que o prazo pode variar.
Os analistas do BTG fizeram as contas do impacto que a medida teria se fosse adotada hoje para todas as empresas que fazem parte do índice.
As ações mais impactadas seriam ITUB4 (que perderia 10 pontos percentuais, ou o equivalente a quase 10 dias de negociação), BBDC4 (4 dias de giro), VIVT4 (1,3 dia), GGBR4 (1,2 dia) and ITSA4 (1 dia).
As ações mais beneficiadas seriam ABEV3, que aumentaria seu peso em 3,9 pontos percentuais (5 dias de giro), VALE3 (3,8 pontos/2 dias) e BVMF3 (1,5 ponto/2,5 dias).
Há 18 anos, o advento do Novo Mercado sinalizou que o futuro do mercado de capitais pertenceria a empresas que dessem a todos os acionistas o mesmo direito a voto. De lá para cá, inúmeras melhorias nas regras de governança apontaram na mesma direção, e hoje praticamente todos os IPOs são de empresas com ONs apenas. Mas parece que vai ser a hegemonia crescente do passive investing — em que o investidor compra um índice, em vez de ações individuais — o que vai forçar as companhias brasileiras a confrontar seu legado de PNs.
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