Walter Torre Jr., cujo espírito empreendedor deu a São Paulo as torres do JK Iguatemi e o Allianz Parque, a arena do Palmeiras, morreu esta tarde em decorrência da covid.

10285 45163436 0e5a 03e2 016c df1db9d4d7f0Walter estava internado no Einstein em São Paulo há cerca de um mês.  Ele tinha 64 anos.

Precursor dos chamados contratos atípicos, em que um galpão é construído sob especificação para o cliente com contratos de longo prazo, Walter inventou o mercado de build-to-suit no Brasil no final dos anos 90.

No comando da WTorre, empresa fundada por seu pai em 1981, Walter trouxe dos EUA o sistema “tilt up” de construção, tornando-se o construtor mais rápido e mais barato do mercado, ganhando uma vantagem competitiva gigantesca e dominando o mercado em pouco tempo. 

Ao longo da vida, construiu galpões para os maiores clientes corporativos do Brasil, da Pirelli à Nestlé, das Casas Bahia à Volkswagen e Carrefour. Também fez a primeira securitização de build-to-suit com a emissão de um CRI.

Acostumado a uma vida cíclica quebrou e ficou rico inúmeras vezes Walter era conhecido por sua alegria de viver, senso de humor superlativo e, segundo os amigos, levantava todo mundo ao seu redor.

Nos últimos quatro anos, sobreviveu a uma leucemia. Fez dois transplantes de medula, o último em 2019.

“Foi meu irmão, meu professor, meu tutor, minha inspiração,” diz Marcelo Hannud, um veterano do mercado imobiliário que conviveu anos com Walter. Recentemente, fizeram juntos o CD da Leroy Merlin em Cajamar, quando Hannud ainda estava na XP.

Investigado na Lava Jato, nunca foi indiciado.

Em 2016, os procuradores do Ministério Público Federal investigaram a WTorre por ter recebido R$ 18 milhões para desistir de competir pela ampliação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes). Walter sofreu condução coercitiva.

À época, numa carta a seus funcionários, Walter disse que “ofereceu o melhor preço e foi pressionado a abrir mão do trabalho pelo simples fato de não pertencer ao cartel” formado por empreiteiras como OAS, Carioca Engenharia e Schahin.

“Tenho dúvidas se o fator ‘surpresa’ que permeia toda a ação da Justiça nas investigações recentes visa ‘preservar provas’ ou subjugar e humilhar seus alvos. O espetáculo a que fomos submetidos nesta semana me faz acreditar na segunda hipótese,” escreveu.

“Me pergunto qual teria sido a finalidade de mandados de condução coercitiva a que fomos submetidos no dia 4 de julho. Pois, quando houve suspeitas sobre nossa conduta, não me escondi e não me omiti. Compareci ao Congresso Nacional e prestei todos os esclarecimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito, como muitos de vocês devem lembrar.”

Na carta, Walter disse que “não faz obras públicas”, que “não é empreiteiro” e que “nunca recebeu dinheiro de nenhum governo e não faz parte de clube algum”.

Nos últimos anos, Walter continuou sonhando — e fazendo.  Ano passado, comprou da Odebrecht o terreno onde hoje há um Carrefour (ao lado do Parque da Cidade), onde pretendia construir a torre corporativa mais alta de São Paulo, com mais de 80 mil metros quadrados de ABL.

 
Também fez acordos com o Vasco, o Santos e a Ponte Preta para constituir um fundo para a revitalização de suas arenas, além de entrar numa PPP de iluminação pública em parceria com investidores chineses.

Walter deixa a mulher, Silvia, três filhos e seis netos.