A Viveo decidiu adiar seu IPO e esperar uma janela de mercado mais amigável, a mais recente empresa a sentir os efeitos da mudança de humor dos investidores que começou com a extemporânea e desnecessária troca de comando na Petrobras.
O descarrilamento do mercado de IPOs começou ali. A interferência na estatal machucou a curva de juros, pressionou o câmbio e assustou investidores internacionais. As chicanas fiscais do Congresso e uma pandemia fora de controle fizeram o resto.
O adiamento acontece apesar da Viveo ter ordens firmes de gestoras como Dynamo e Equitas.
A companhia — uma holding que reúne os negócios da Cremer e da Mafra Hospitalar — pretendia levantar cerca de R$ 1,5 bilhão entre a oferta primária e a secundária para sua tese de ecossistema de manufatura e distribuição de produtos e serviços de saúde.
Em outro sinal da fragilidade do mercado, a Rede Mater Dei reduziu ontem o piso de sua faixa indicativa em 15%, uma tentativa de fechar a oferta depois que a Rede D’Or invadiu seu território com a aquisição do Biocor. A Mater Dei, a mais prestigiosa rede hospitalar de Minas Gerais, está aceitando sair a 15,4x EV/EBITDA 2021, numa transação que deve ser precificada hoje à noite. Para efeito de comparação, a Dasa saiu a 16,5x depois de ser forçada a uma redução de 12,5% no piso.
A oferta da Viveo chegou a ficar mais de 100% coberta no piso da faixa que ia de R$ 19,92 a R$ 25,81, mas na reta final os investidores pressionaram por desconto.
Ontem à noite, o conselho da companhia — controlada pela DNA Capital e pela família Mafra — decidiu não ceder no preço e esperar um mercado mais construtivo.
“O grande problema dessa safra de IPOs é que o gringo saiu e o investidor local cresceu, e aí resolveu exercitar todo seu poder de barganha,” diz um banker envolvido com a oferta. “Virou uma coisa de pedir desconto por esporte.”
Fontes próximas à companhia dizem que a Viveo tem caixa e potencial de alavancagem suficientes para continuar sua estratégia de aquisições no curto prazo. No final do quarto tri, o último reportado, o endividamento da companhia estava abaixo de 1x EBITDA.
A companhia — que tem aumentado seu EBITDA 24% ao ano organicamente e 34% quando se consideram as aquisições — estava buscando um valuation post money entre 11x e 14x EV/EBITDA 2021.
Os coordenadores da oferta eram JP Morgan (líder), Itaú BBA, BTG Pactual, Safra, Bradesco e Bank of America.