Tom Brady já se aposentou e desaposentou – mas a Religion of Sports, a produtora de conteúdo esportivo cofundada por ele, está apenas começando.
A startup acaba de levantar uma rodada de US$ 50 milhões que avaliou a empresa em US$ 140 milhões (post-money).
O valuation é quase quatro vezes maior que o da última rodada, em julho de 2020.
A RoS – como os íntimos chamam a empresa – já produziu 12 séries documentais e levou dois Emmys pra casa.
São documentários como Man in the Arena, que conta a história do próprio Brady até ele pendurar as chuteiras; Simone Vs. Herself, gravado com a ginasta olímpica Simone Biles depois que ela desistiu das Olimpíadas; e Greatness Code, que mostra momentos marcantes da carreira de LeBron James, Usain Bolt e (de novo) de Brady.
A RoS está levantando capital para acelerar a produção de novas séries – pelo menos três este ano, incluindo a Greatness Code II – e lançar uma nova vertical de conteúdo focado em saúde mental.
A ideia de criar essa vertical – batizada de Peak Human – veio depois do sucesso de Simone Vs. Herself, que explora, dentre outras coisas, a saúde mental da atleta.
A nova divisão vai contar com a consultoria do médico e escritor Deepak Chopra, pai do cineasta Gotham Chopra, que é cofundador da RoS junto com Brady e Michael Strahan, o ex-defensive do New York Giants.
A rodada de hoje foi liderada pela Shamrock Capital, uma gestora especializada em mídia que já investiu na Fanduel, e teve a participação da Elysiam Park, que liderou a última rodada. Também participaram os fundos Redstone, dos fundadores da Viacom, e a Linkin Firm, do investidor brasileiro e ex-tenista Márcio Torres, que participou com 10% da rodada. A Linkin já havia entrado em rodadas anteriores e hoje é o quarto maior acionista da RoS.
A rodada vem num momento em que o mercado de produção de conteúdo independente está bombando. A Springhill, a produtora do jogador de basquete LeBron James, foi avaliada em US$ 725 milhões em outubro numa rodada privada que contou com a Nike, a Epic Games e o Fenway Sports Group, dona do Boston Red Sox e do Liverpool.
Fora do mundo do esporte, a Hello Sunshine – a produtora da atriz Reese Whiterspoon – foi comprada por US$ 900 milhões por um pool de investidores incluindo a Blackstone e os ex-executivos da Disney Tom Staggs e Kevin Mayer, que estão criando uma holding de mídia com várias produtoras debaixo.
“Várias plataformas tem olhado para conteúdo independente, e a lógica nem é receita, mas comprar, colocar o conteúdo pra dentro e ir gerando valor ao longo dos anos,” Márcio Torres, da Linkin Firm, disse ao Brazil Journal. “É um play parecido ao dos fundos comprando direitos autorais de música.”
Segundo ele, diversas plataformas de streaming e empresas de mídia já abordaram a RoS para discutir M&A.
Para crescer, a RoS também tem explorado a entrada em novos mercados, incluindo o Brasil. Por aqui, a americana fechou uma parceria com a Adventures para criar conteúdos de esporte com atletas brasileiros, com foco no universo do futebol. A empresa está em negociações, por exemplo, com Ronaldo Nazário e o Guga.
***
A RoS ganha dinheiro de três formas: faturando com a produção das séries, vendendo os direitos de exibição para as plataformas de streaming e, depois que a série vai ao ar, ganhando uma receita recorrente por visualização.
Os deals variam de formato, dependendo da série.
Há casos em que a plataforma paga um valor alto upfront e a RoS abdica das receitas de exibição, e outros em que a plataforma paga um valor menor na frente, com a RoS faturando mais com a recorrência dos views.
Apesar de bancar a produção com a verba das plataformas, a RoS é intensiva em capital: ela precisa produzir os pilotos e fechar os contratos com os atletas (um processo que demanda contratar exércitos de advogados).
Mas dentro do universo de conteúdo, o esporte tem uma vantagem.
“O esporte traz mensagens atemporais, como disciplina, trabalho em equipe, caráter e resiliência,” disse Márcio, da Linkin. “Isso tem um valor muito grande para as plataformas de streaming porque são produtos que duram muitos anos… Eu estou assistindo hoje, mas daqui a cinco anos meu filho pode ver também, e daqui a 25 meu neto vai assistir e gostar.”