Cláusulas pouco conhecidas no acordo de acionistas de José Isaac Peres com o Ontario Teachers Pension Plan inviabilizam o cenário de pulverização do capital da Multiplan que o mercado inicialmente imaginava.
Pelos termos do acordo, se decidir vender os 18,52% do capital que são vinculados ao acordo de acionistas, o Ontario Teachers terá que encontrar um único comprador para todas as ações — e não poderá pulverizar sua participação em Bolsa, como o que fez no leilão de hoje, no qual o fundo vendeu os 8,85% do capital da companhia que não estavam vinculados ao acordo.
Mais ainda: o acordo também obriga o potencial comprador das ações a aderir ao acordo de acionistas atual — nos mesmos termos e condições.
Estes detalhes do acordo — revelados ao Brazil Journal por uma fonte próxima à Multiplan e confirmados por advogados independentes — mostram os termos altamente restritivos que Peres conseguiu impor ao sócio canadense, e, na prática, tornam a posição do fundo substancialmente ilíquida.
Quando o Ontario vendeu na manhã de hoje as ações que estavam fora do acordo, o mercado assumiu que esta seria a primeira de muitas vendas, que pulverizariam o capital da Multiplan na medida em que o fundo canadense zerasse gradualmente sua posição na companhia.
“Este acordo pressupõe que a empresa sempre vai ter um grupo controlador definido, e nunca se tornará uma corporation,” disse um advogado que estudou o texto.
Mesmo que Peres não tenha dinheiro para exercer o direito de preferência numa eventual venda do Ontario, ele sempre continuará mandando, já que o acordo obriga o comprador das ações a aderir incondicionalmente ao acordo.
Peres, o fundador da Multiplan, tem 25% da companhia e, pelo acordo de acionistas, tem a maioria no conselho.
O acordo estabelece que o Ontario tem direito de veto em 11 matérias, como a aprovação do plano de negócios, novos investimentos, contração de dívidas acima de determinado valor e a venda de ativos.
O acordo de acionistas vale até 2037. Peres tem 83 anos.