Um dia depois que a GetNinjas propôs devolver a maior parte de seu caixa aos acionistas, a REAG Investimentos disse que acumulou mais de 24% do capital da companhia e fez um discurso ativista sobre “inúmeras oportunidades de crescimento.”
A posição torna a REAG o maior acionista da plataforma de serviços domésticos, à frente do fundador Eduardo L’Hotellier, que tem 18% do capital.
A posição foi montada em menos de um mês, com a gestora comprando participações de acionistas como a Oceana Investimentos e a Kinderhook em block trades que fizeram o volume negociado explodir.
A REAG disse numa nota ao mercado que montou a posição porque o valor patrimonial e a posição de caixa da GetNinjas são “substancialmente superiores” ao valor que a ação negocia.
Além disso, a REAG disse que identificou “oportunidades de aquisição de negócios conexos ao core business” da GetNinjas que permitiriam à empresa “atingir patamares de crescimento compatíveis com o esperado pelo mercado.”
João Carlos Mansur, o CEO da REAG, disse ao Brazil Journal que a GetNinjas “precisa pensar mais fora da caixinha.”
Para ele, “tem muita coisa para fazer,” como “agregar uma vertical de crédito, de operações condominiais, de seguros, como por exemplo oferecer um seguro performance. Dá para criar também um programa de cashback para fidelizar mais os clientes.”
Outra avenida de crescimento seria entrar no mercado B2B, por meio da aquisição de um concorrente ou desenvolvendo o negócio internamente.
“Parece óbvio, mas eles não fizeram nada disso,” disse Mansur. “Focaram os últimos anos basicamente em aumentar a base de prestadores de serviços e de clientes.”
O gestor lembra que a GetNinjas fez seu IPO a um valuation de mais de R$ 1 bilhão e que, para justificar aquele valor, a empresa teria que crescer muito sua receita e EBITDA. “Para isso, ela precisa ir para rua, bater de porta em porta, buscar novos negócios, e pensar fora da caixa.”
Mansur disse que um dos caminhos para melhorar o negócio será profissionalizar mais a gestão. Hoje, o fundador é ao mesmo tempo o CEO, vice-chairman e diretor de RI da empresa.
“Quando você vai pro mercado, você está fazendo a opção de ser uma companhia pública,” disse ele. “E para ser uma companhia pública, você tem que ter executivos de mercado.”
Com os 24,38% do capital, a REAG já teria condições de eleger uma parte relevante do conselho. Mansur disse, no entanto, que pretende conversar com os conselheiros da empresa para entender a visão deles para o negócio e sua capacidade de contribuir.
Depois de sexta-feira, a REAG parou de comprar o papel. A posição montada coloca a gestora no limite da ‘poison pill’ da GetNinjas, que obriga qualquer investidor que passar de 25% do capital a fazer uma oferta por toda a empresa.
Sobre a redução de capital, a REAG disse que foi “surpreendida” pela proposta da GetNinjas e que “em primeira análise é contrária”, dado que a distribuição do caixa inviabilizaria uma estratégia de crescimento mais assertiva.
“Embora num primeiro momento a proposta de redução tenha elevado o preço das ações, essa redução poderá resultar em perda de valor da companhia, limitar o crescimento da GetNinjas e impedir a realização do plano de negócios do IPO,” disse a gestora.
Mansur ponderou, no entanto, que a decisão da REAG ainda não é final.
“A gente não sabe qual foi o business plan que motivou essa proposta. Precisamos entender os motivos da gestão e por que eles não fizeram nada do que estamos falando até agora,” disse ele.
A posição da REAG foi montada com capital proprietário dos sócios. A empresa de wealth management – que se assemelha a um banco de investimentos – tem R$ 174 bilhões em ativos sob gestão e outros R$ 199 bi em ativos sob administração.
Mansur fundou a empresa em 2012, depois de assessorar o empresário Walter Torre na criação do Allianz Parque.
Hoje a REAG tem um patrimônio líquido de R$ 800 milhões – parte alocada em crédito, parte em liquidez, parte em lastro (para sua seguradora e sua financeira) e o resto em equities e special situations.
A GetNinjas vale R$ 230 milhões na Bolsa e teve seu primeiro lucro líquido no segundo trimestre deste ano depois de um corte de pessoal significativo.