Em meio ao bull market da bolsa americana, um segmento ficou para trás: as mid caps, que negociam hoje com um desconto de múltiplo preço-lucro de cerca de 30% em relação às large caps.

Enquanto o S&P 500 dobrou de valor em cinco anos e subiu quase 20% em 12 meses, o S&P MidCap 400, que reúne ações de empresas de médio porte, se valorizou 77% e 10%, respectivamente.

Para Jenny Chang, uma portfolio manager da Goldman, essa diferença é explicada mais pela falta de interesse dos investidores em olhar de perto as mid caps do que pelo potencial dessas empresas. 

“Os investidores podem estar ignorando um dos segmentos mais promissores do mercado americano,” ela disse num vídeo recente publicado pela própria Goldman.

Mas alguns gestores e analistas apontam riscos numa análise baseada apenas em tamanho para determinar quais ações têm potencial. “O que realmente faz diferença é o setor e o modelo de negócios,” Artur Wichmann, o CIO da XP, disse ao Brazil Journal

Na média, as large caps vêm entregando resultados melhores que as empresas de menor porte nos EUA. Dados compilados por Wichmann mostram que 83% das mid caps americanas são lucrativas atualmente, frente a 93% das grandes companhias.

“Na nova economia, os mercados se organizam em oligopólios naturais,” disse Wichmann. “Em tech, são as maiores companhias que estão capturando boa parte dos ganhos, e não as menores, como ocorria no passado, e isso está refletido no preço das ações.”

 Em 2023, o lucro das Mag 7 aumentou em média 31%, enquanto as demais integrantes do S&P 500 tiveram uma queda de 4% no resultado. Em 2024, a diferença foi um ganho de 40% para as Mag 7 e de apenas 4% para o resto do índice.

A projeção agora é de uma expansão menor dos lucros das Mag 7 neste e no próximo ano, em torno de 15% – mas ainda assim superior ao desempenho esperado para as demais integrantes do S&P 500.

Para alguns gestores, o apelo das mid caps é que elas podem ser as Mag 7 de amanhã. “Investimos em gestores que estão focados em encontrar esses novos vencedores e, quando encontrarem, isso fará diferença no retorno,” disse Roque Sut, o CIO da Setta Gestão e Governança Patrimonial, no Rio. 

Podem ser empresas de tecnologia ou podem ser as “novas Cola-Colas”, disse Wichmann: companhias que podem se beneficiar indiretamente de inovações, como as fabricantes de bebidas se beneficiaram da invenção da eletricidade e das geladeiras. 

“É claro que há oportunidades entre as mid caps, mas não pelo fato de elas serem mid,” disse Wichmann.