Ray Dalio, o fundador da Bridgewater Associates, disse que os EUA sob Donald Trump estão rumando para a adoção políticas que lembram os governos populistas autoritários dos anos 30 – e que os investidores se sentem intimidados para se manifestar contra o Presidente americano.
“O que acontece agora, politicamente e socialmente, é análogo ao que ocorreu no mundo no período entre 1930 e 1940,” Dalio disse ao Financial Times.
Segundo Dalio, historicamente o aumento da desigualdade leva ao “populismo de direita e do populismo de esquerda – e criam diferenças irreconciliáveis” que não conseguem ser resolvidas pelo processo democrático.
“Assim, as democracias enfraquecem e a liderança autocrática aumenta, à medida que uma grande porcentagem da população deseja que os governantes assumam o controle do sistema para que as coisas funcionem melhor para elas,” afirmou.
“Estou apenas descrevendo as relações de causa e efeito que estão impulsionando o que está acontecendo,” Dalio disse ao FT. “A maioria das pessoas fica em silêncio por medo de retaliação, caso façam críticas.”
Dalio, um dos gestores mais bem-sucedidos da história e cuja firma administra mais de US$ 90 bilhões, evitou classificar Trump como autoritário ou socialista, mas vê semelhanças de sua política com governos populistas autoritários – como o “crescente controle daquilo que deve ser feito pelo banco central e pelas empresas.”
Dalio citou como exemplo de políticas autoritárias na economia o investimento governamental na Intel e as interferências na autonomia do Federal Reserve.
Trump, além de seus ataques a Jerome Powell pela demora em reduzir os juros, tenta acelerar a indicação de pessoas de sua confiança para o Fed e assim ter mais votos na tomada de decisões nas reuniões do FOMC.
Trump deve ter um aliado no Fed em breve. A nomeação de seu conselheiro econômico, Stephen Miran, para a diretoria do BC americano vai ser votada pelo Senado na quinta-feira. O Presidente tem maioria na Casa. Se aprovado, Miran já poderá participar da próxima reunião do Fed, em 17 de setembro.
Além deste movimento, Trump exigiu a demissão da diretora Lisa Cook, que teria cometido fraude hipotecária. Ela negou irregularidades e disse que não vai renunciar ao cargo.
Na entrevista ao FT, Dalio afirmou que as investidas de Trump “vão debilitar a confiança do Fed em sua defesa da moeda, tornando os ativos denominados em dólar menos atraentes.”
Dalio vem alertando há tempos para as consequências desestabilizadoras para o sistema financeiro internacional do elevado endividamento americano – algo que deve se agravar com Trump e seu plano fiscal, mas que vem sendo ignorado por “presidentes de ambos os partidos.”
“Os grandes excessos agora projetados como resultado do novo orçamento provavelmente causarão um ataque cardíaco induzido pela dívida em um futuro relativamente próximo,” disse ele. “Eu diria três anos, mais ou menos um ou dois anos.”
Dalio vem analisando a fundo esses temas em livros publicados recentemente, entre eles Como os países quebram e Princípios para a ordem mundial em transformação: Por que as nações prosperam e fracassam.
Dalio disse que o governo americano gasta cerca de US$ 7 trilhões por ano enquanto arrecada apenas US$ 5 trilhões – um desequilíbrio que levará a uma emissão maciça de títulos públicos justamente quando os investidores questionam se os títulos do Tesouro são boas reservas de valor. “A demanda por dívida dificilmente acompanhará a oferta,” afirmou.
Para o investidor, o Fed se verá diante de uma escolha difícil: permitir que o yield dos Treasuries suba (e possivelmente enfrentar uma crise da dívida) ou imprimir dinheiro e comprar títulos que ninguém quer.
Os dois caminhos, disse o gestor, vão “machucar o dólar.”
Depois de publicada a entrevista, o gestor postou no LinkedIn a íntegra das perguntas e respostas, dizendo que o FT havia “descaracterizado” o que ele havia dito.