A Brazilian Rare Earths — uma mineradora brasileira de terras raras em estágio pré-operacional — acaba de precificar seu IPO na Bolsa da Austrália numa operação que financiará a exploração de suas minas num momento em que esse mercado ganha uma importância geopolítica cada vez maior.
O IPO saiu a 1,47 dólar australiano (AUD) por ação, o topo da faixa indicativa, que ia de AUD 1,33 a AUD 1,47. A alocação está em curso.
A oferta está sendo coordenada pela Canaccord Genuity, o banco de investimentos canadense especializado em mineração que recentemente abriu um escritório em São Paulo.
A expectativa é que a ação comece a negociar em 20 de dezembro. (O sistema australiano é diferente do nosso.)
No Brasil, a Canaccord falou sobre a oferta principalmente com hedge funds, que enxergam o investimento neste tipo de empresa – de exploração e pré-operacional – quase como uma opcionalidade.
Com o IPO, a Brazilian Rare Earth quer levantar AU$ 50 milhões a um valuation de AU$ 315 milhões (cerca de R$ 900 milhões ao câmbio de hoje).
A companhia foi fundada em 2021 por Bernardo da Veiga, um brasileiro que mora na Austrália e tem um background no setor de mineração. Ele foi por seis anos o CEO da South American Ferro Metals, uma empresa de minério de ferro.
Outro acionista importante é Gina Rinehart, a mulher mais rica da Austrália e uma das principais investidoras globais do setor de mineração. Gina entrou no captable numa rodada pré-IPO que injetou AUD 21 milhões no caixa da Brazilian Rare Earth no ano passado.
Após o IPO, a participação do fundador e do management cairá de 91% para cerca de 60% do capital; Gina vai acompanhar a oferta e continuará com 6%; e o free float deve ficar em torno de 16%. (O restante do capital está nas mãos de fundos institucionais, que por algum motivo não são considerados parte do free float.)
A Brazilian Rare Earths tem a concessão para explorar terras raras num terreno de mais de 460 quilômetros quadrados no Nordeste. As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos que normalmente ocorrem na natureza misturados a minérios. Apesar do nome, esses elementos não são raros, mas são difíceis de extrair.
As terras raras têm ganhado importância nos últimos anos por serem essenciais no processo de eletrificação. Os elementos são usados na fabricação de equipamentos de geração de energia renovável, smartphones, cabos, super-ímãs, baterias de longa duração e foguetes.
A Brazilian Rare Earths vai operar com a extração das chamadas argilas iônicas (ionic clays), uma argila normal que contém íons de terras raras.
Metade dos recursos do IPO será usado para acelerar o processo de exploração das terras, com o objetivo de começar a extrair as argilas iônicas em 2026. Outra parte será destinada à aquisição de mais terras, e o restante para capital de giro.
O IPO vem num momento em que o mercado de mineração de metais raros está bombando, com investidores buscando se posicionar em ativos que se beneficiem da transição energética e isolem o risco geopolítico.
Hoje, 80% de toda a produção de terras raras vem da China, o que tem gerado preocupação nos Estados Unidos e Europa em relação à dependência de um país tido como rival.
Isso tem levado a uma corrida global por terras raras, e o Brasil deve ser um dos grandes beneficiários desse movimento.
Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil tem a terceira maior reserva de terras raras do mundo, ao lado da Rússia, com 21 milhões de toneladas. Os maiores depósitos estão na China (44 milhões de toneladas) e no Vietnã (22 milhões).
Além disso, o “Brasil é considerado um país neutro, está fora da briga China versus Ocidente,” disse um empresário que está começando a estudar esse mercado. “Isso é bom porque o Brasil pode virar uma alternativa importante para esses países no futuro.”
No Brasil, há quatro empresas explorando o mercado de terras raras hoje — todas em estágio pré-operacional. Além da Brazilian Rare Earths, as maiores são a Meteoric Resources, que é australiana e disse recentemente que vai investir mais de R$ 1,5 bilhão em minas ao redor de Poços de Caldas; e a Serra Verde, que tem minas na região homônima, também em Minas Gerais.