A estudante Luiza Vilanova, de 22 anos, é a primeira brasileira a receber a prestigiosa bolsa Rhodes, da Universidade de Oxford. Ela vai fazer um mestrado em Políticas Públicas e Educação Comparada e Internacional na Escola de Governo Blavatnik. 

Personalidades como Bill Clinton, o prêmio Nobel em Medicina Howard Florey e a escritora Naomi Wolf receberam a bolsa criada em 1902, financiada pelo fortuna do magnata britânico da mineração Cecil Rhodes após sua morte. 

A taxa global de admissão no programa da Rhodes Scholarship é de 0,7%, o que a torna uma das bolsas de estudo mais concorridas do mundo. “Estou muito feliz de ser a primeira, mas não quero ser a única,” Luiza disse ao Brazil Journal.

A trajetória de Luiza é uma amostra de como a perseverança às vezes é capaz de vencer barreiras estruturais. Com 20 bolsas de estudo ao longo da vida, Luiza chega agora ao topo da elite acadêmica.

A estudante nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos. Na condição de imigrantes ilegais, seus pais tentavam ganhar a vida em funções relegadas aos sem documentação: o pai trabalhou na construção civil, a mãe foi faxineira. Quando Luiza tinha nove meses, eles resolveram voltar para o Brasil. 

“Com 9 anos de idade, meu avô tinha calos na mão por causa de uma enxada. Aos 9 anos, eu já tinha calos por causa do lápis. Sempre soube que a educação era o caminho,” disse Luiza.

Com a menina tirando boas notas, os pais de Luiza batiam na porta de escolas particulares em busca de bolsas de estudos. Foi assim que ela conseguiu cursar o ensino fundamental e médio em escolas privadas de Goiânia. 

Mas a vida de bolsista não era fácil. Nem sempre as bolsas eram renovadas, e a estudante era obrigada a trocar de escola com frequência, o que levou Luiza a sofrer com o bullying. “Eu sabia que não era culpa minha e que outros alunos sofriam o mesmo,” disse. 

Com 15 anos de idade, a experiência a motivou a fundar o projeto Gotinhas do Bem, uma iniciativa voltada à aprendizagem socioemocional em escolas públicas, com o objetivo de reduzir casos de agressão e bullying. O projeto, que começou em Aparecida de Goiânia, já ajudou mais de 8 mil crianças em nove países.

No terceiro ano do ensino médio, Luiza começou a sonhar com algo que parecia longe demais para sua realidade: fazer faculdade no exterior. “Não falava quase nada de inglês. Estudava a língua com a ajuda do YouTube,” lembra. 

Passou então a se preparar para uma maratona de processos de seleção nos Estados Unidos. Com a ajuda de seus professores e mentores da BRASA, a associação de brasileiros no exterior, ela foi aprovada em 11 universidades americanas.

A jovem escolheu o curso de Ciências Políticas e Educação na Columbia University, que lhe deu bolsa integral. Mas o auxílio não era suficiente para viver fora do País. “Não tinha dinheiro nem para os casacos de frio ou para viajar para ver a família.” 

Para se manter nos Estados Unidos, Luiza recebeu uma bolsa da Fundação Estudar e um auxílio da BRASA para estudantes de baixa renda. Além disso, ao longo do curso recebeu outras ajudas financeiras ligadas à pesquisa (as bolsas Edwin Robbins e Lubar Family). 

Durante a graduação, Luiza criou seu segundo projeto social voltado para a educação, o Tocando em Frente. O foco da ONG é evitar a evasão escolar e inspirar os alunos da rede pública a olhar para além de sua própria bolha. Com uma rede de jovens voluntários em todo o País, a Tocando em Frente já impactou 11 mil crianças.

Este ano, a ONG recebeu o prêmio LED!, promovido pela Globo e Fundação Roberto Marinho, além de R$ 200 mil para manter as atividades operacionais.

As aulas em Oxford começam só em setembro, e até lá Luiza fica em Goiânia com as atividades da Tocando em Frente. Mesmo dedicada ao mestrado nos próximos dois anos, ela planeja seguir na coordenação da ONG à distância.

Aproveitando as oportunidades ao seu alcance, de bolsa em bolsa Luiza chegou longe – e agora trabalha para outros jovens sonharem tão alto quanto ela.