A ECSA – uma startup que lançou uma stablecoin de real – acaba de levantar uma rodada com a Y Combinator para investir em aumentar a liquidez de sua moeda e torná-la dominante no mercado.
A captação, de US$ 3 milhões, também teve a participação da Arca Capital, um fundo americano focado em criptomoedas, da brasileira DOMO Invest, e da DP88 e da Artichoke, dois fundos de Hong Kong, além de investidores-anjo como Eduardo Vasconcellos, o ex-gestor da Valor Capital hoje no GIC.
A ECSA não é a primeira empresa desenvolvendo uma stablecoin de real.
Há pelo menos outras três stablecoins da moeda brasileira em operação: a MBRL, do Mercado Bitcoin; a BRL, da N Token; e a BRZ, a maior do mercado brasileiro mas que pertence à Transfero, que tinha relações próximas com a FTX, que faliu sob a liderança de Sam Bankman-Fried.
O problema, segundo os fundadores, é que nenhuma dessas moedas consegue ter liquidez.
“A stable de dólar é muito líquida porque a moeda é o dólar e todo mundo quer ter dólar,” João Victor Aguiar, um dos fundadores da ECSA, disse ao Brazil Journal. “Mas o mesmo não é válido para o real, então quem dá liquidez cobra um spread muito grande por isso.”
As moedas são pouco atrativas porque não oferecem ao detentor a rentabilidade da Selic que o real físico (a moeda fiat) consegue ao ser aplicado. Em outras palavras: as stablecoins de real hoje não rendem nada, porque o rendimento – o ganho com o float – fica com o emissor.
A ECSA quer subverter este modelo, oferecendo uma stablecoin que, “em vez de reter o ‘carrego’, repassa os ganhos do float para quem tem a moeda,” disse Rodrigo Marino, o outro fundador.
Na prática, funciona assim: a stablecoin de real tem lastro de 1 para 1 – ou seja, para cada 10 milhões de tokens emitidos, ela tem R$ 10 milhões depositados em uma conta e investidos em títulos públicos. A ECSA usa todo o rendimento desta aplicação para emitir mais tokens, que são repassados a seus clientes (ou token holders).
Para se remunerar, a empresa vai atuar como market maker nas transações descentralizadas e nas exchanges de moedas, operando como contraparte sempre que alguém quiser comprar BRLE ou usar BRLE para trocar por outras moedas, e cobrando uma comissão.
A ECSA está operando em ‘beta’ com seu próprio balanço. Por enquanto, emitiu apenas R$ 1 milhão em tokens da BRLE, mas espera chegar a R$ 300 milhões até o final do ano.
A aposta da startup é atrair traders e hedge funds de cripto que queiram fazer operações de carry trade (tomar dívida numa taxa e investir a taxas mais altas) com a BRLE, bem como exchanges estrangeiras que queiram oferecer uma stablecoin de real para seus clientes sem ter presença no mercado brasileiro.
A criação da BRLE vem num momento em que o próprio Banco Central está trabalhando para criar uma stablecoin de real.
Para os fundadores, isso não é um problema, já que as stablecoins podem coexistir, como acontece no mercado americano, e porque a stablecoin do BC deve ter um caso de uso diferente da BRLE.
“Eles estão focando mais nas transações domésticas do que em se tornar um facilitador para operações cross border,” disse Rodrigo.
O mercado potencial da ECSA é gigantesco. Nos EUA, por exemplo, existem stablecoins de dólar, como a Circle e Tether, com mais de US$ 40 bilhões em lastro. No Brasil, a BRZ (da Transfero) tinha mais de R$ 1 bilhão em lastro até pouco tempo.
Mas qual a barreira de entrada nesse mercado? O que impede outras empresas de adotar o mesmo modelo da ECSA?
“É uma questão de quem é o primeiro. Estamos pegando o principal revenue pool do mercado e dando para os holders. Quem faz isso primeiro ganha mais liquidez. O emissor marginal vai conseguir entregar o mesmo retorno que nós para os token holders, mas terá menos liquidez. Qual o incentivo do investidor de ir para o outro?” disse João.
“Quando construirmos liquidez vamos criar a barreira de entrada. E com liquidez vamos conseguir cobrar mais barato na operação de market maker.”