Uma startup brasileira encontrou um jeito de fazer com que pequenas empresas espalhadas por todo o País possam ter grandes celebridades em suas propagandas – e está faturando alto com isso.
O Aceleraí – uma agência novata criada dentro do ecossistema do grupo Dreamers pelo publicitário Allan Barros – já faturou R$ 70 milhões no ano passado e espera dobrar a receita este ano.
(Pelas contas de mercado, isso significa que a empresa deve ter movimentado cerca de R$ 700 milhões em mídia paga em 2023.)
A ‘mágica’ do Aceleraí é fatiar os contratos milionários das celebridades, permitindo assim que empresas regionais e de menor porte tenham acesso a nomes como Cauã Reymond — atualmente um dos artistas mais caros do Brasil para publicidade.
Outros artistas disponíveis para serem fatiados incluem, Juliana Paes, Thiago Lacerda, Giovanna Antonelli, Glória Pires, Jojo Todynho e Murilo Benício.
O Aceleraí usa inteligência artificial para criar conteúdo customizado para diferentes setores. Na prática, a agência alimenta uma biblioteca de conteúdo com mensagens relevantes para o cliente de cada setor – e em cada época do ano. Quando uma empresa regional contrata o artista, o conteúdo já está pronto para usar. A biblioteca da startup já tem 800 mil conteúdos gravados.
Depois, a peça publicitária é veiculada em TVs regionais ou direcionada nas redes sociais para pequenas cidades. Por isso, fica mais barato.
Já o artista precisa gastar apenas um dia do ano para deixar milhares de comerciais gravados. E são milhares mesmo: uma diária de gravação permite que a IA monte 8 mil peças.
Além disso, a startup também desenvolveu tecnologia de síntese de voz, permitindo que os artistas possam “falar” o nome de milhares de clientes.
O fundador do Aceleraí, Allan Barros, costuma dizer que criou uma ‘Netflix da publicidade’ – mas para o Claude (o ChatGPT da Anthropic, que acaba de chegar ao Brasil), a analogia é outra.
Perguntei ao Claude com qual Big Tech o Aceleraí poderia ser comparado. A resposta: um “Airbnb de celebridades.”
Segundo o Claude, assim como o Airbnb permite que proprietários “aluguem” espaços ociosos em suas casas, o Aceleraí permite que as celebridades “aluguem” partes de sua imagem e tempo para várias campanhas menores.
O Airbnb tornou possível que pessoas comuns ficassem em locais antes reservados apenas para quem podia pagar hotéis caros. Da mesma forma, o Aceleraí permite que pequenas empresas tenham acesso a celebridades antes restritas a grandes marcas.
O Airbnb otimiza o uso de espaços que ficariam vazios. O Aceleraí otimiza o uso da imagem de celebridades que poderia ser subutilizada em apenas algumas grandes campanhas por ano.
E assim como o Airbnb tem um sistema de avaliação para garantir a qualidade das acomodações, o Aceleraí tem um rigoroso processo de curadoria para selecionar as empresas que podem usar sua plataforma.
Ok, Claude, obrigada.
Das 20 mil empresas que se cadastram no Aceleraí por mês, apenas 4 mil se qualificam para usar o serviço.
Allan explica que a empresa usa pelo menos três filtros para garantir que as celebridades não tenham sua imagem associada a um anunciante tóxico.
O filtro financeiro: cliente não pode ter protestos em seu nome. O filtro jurídico: não pode ter mais de 60 processos trabalhistas em aberto nos últimos dois anos. E o último – e o que mais desqualifica os candidatos – é o filtro da reputação, medida pelo Reclame Aqui.
“A gente olha o feedback que a empresa tem nas redes sociais e no Google,” diz Allan.
Em julho, o Aceleraí bateu recorde: colocou 1.400 campanhas no ar.
Allan garante que em alguns casos a empresa precisa de um orçamento mensal muito baixo, algo em torno de R$ 1.500. Claro que este valor não é suficiente para “alugar” um Cauã Raymond. (Esse está na categoria luxo.) Mas o Aceleraí tem mais de 100 artistas e atletas em seu casting.
Além disso, a startup também otimiza o orçamento dos clientes para que boa parte seja gasto em impulsionamento nas redes sociais, que também é feito pela agência.
A ideia de fazer esse “Airbnb de celebridades” surgiu de uma experiência de Allan no tempo que ele atendia o varejo. (Ele se destacou como publicitário no circuito do varejo quando deu holofote às Lojas Marabraz, e também foi um dos idealizadores das Super Casas Bahia.)
Um belo dia, Allan estava com cinco ‘comerciais incríveis’ para ser apresentados a uma rede de supermercados – mas voltou da reunião com todos rejeitados. “Não é possível simplesmente jogar fora todo esse trabalho.”
Ele quis então fazer uma biblioteca. Sua ideia ‘genial’ era comprar os trabalhos jogados fora de outras agências de publicidade e passar a oferecer para outras empresas. Mas ninguém queria trabalhos geniais ou bonitos. Queriam efetividade.
Quando contou a história para Rodrigo Faro, seu amigo, surgiu a ideia de fazer uma biblioteca com a imagem de celebridades. Foi assim que Faro virou sócio do Aceleraí e deu o start para que outras celebridades fossem se juntando à empresa.
O próximo passo? Expandir a atuação para o mercado internacional e agenciar também celebridades no exterior.
Ainda vem aí o Brad Pitt fatiado…